quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que se é...


Já dizia o poeta “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Creio que o mais relevante seja não a dor ou a delícia, mas saber-se. Saber-se plena de sentidos, de certezas de que os limites não são elásticos e que uma hora ou outra o que se perde, se acha. Ou muda, transmuta.

Gosto de ser assim, um ir e vir. Fluxo. Jamais estanque, sem o mar de possibilidades que invadem a alma de quem é permeável. Porque se é tudo que se absorve. Porque há nos devaneios um pouco de lucidez. E porque há na lucidez um pouco de magia.

Gosto de mudar os cabelos, sem qualquer intervenção alheia. Gosto de moldar meu espírito com o aroma que melhor me convier no momento. Gosto da inteireza de todas as minhas partes. Não aceito bulas, receitas.

Gosto da variação. Seja da nota musical, ou de um amor que nasce e outrora se esvai.

Gosto de ser da exata maneira que quero ser. Sem mais nem porquê. Sem satisfação, ou é ou não é. Não vivo só nos extremos, há de ter um meio. O exato centro do fio da meada. A exata hora de tomar as rédeas e tomar como presente as surpresas que encontro pelo caminho.

Nem tão moderninha, nem tão retrógrada. Nem tão bege, nem um tom tão vermelho. Gosto de tudo que me faça sentir viva. Como as palavras que habitam um pedaço meu que nem mesmo escrevi, ainda.

Posso ser amada, amiga. Posso ser festiva e ter a alma em festa. Posso e devo sorrir em meio a tempestade. Posso não conter as marés que inundam meus olhos e posso ser vida. Vida de amor, de som, de vida.

Mas nada me faz mais contente de mim mesma do que saber quem eu sou.

sábado, 3 de outubro de 2009

Eu vou na fé...


Por onde andam as palavras que me faltam? Por onde andam as confusões nítidas de uma taça de champagne demi- sec? Por onde andam as celebrações de um amor verdadeiro? Devem estar guardadas na ausência de tempo, no vazio das horas corridas na labuta da vida. Em algum lugar do tempo que me falta. Do incenso kali-danda que faz tempo anda apagado.

E de repente me vi sem tempo de mim, em um tempo anacrônico em que eu sou a última a dormir e a primeira a acordar. De um tempo meio sem ontem, sem amanhã e cheio de hoje. Porque assim que se vive, não nos pretéritos, mas na dádiva do presente.
E o que no fim nos mantêm a chama de nossas essências acesas? Talvez seja o sutil intervalo entre ser e se perder. Ou o sutil limite entre o ir e vir dos devaneios. Porque quando se delira tudo pode. Posso ser a rainha das minhas emoções que borbulham na boca do meu estômago.

Da mocinha que sonhava em ser gente grande e agora ora todas as noites por momentos de candura de criança. Do salto agulha que pede pra vestir o pé de nudez. Da energia que anda escassa. Do tempo de independência e de poucos mimos.
Da princesa que cresceu, lutou, venceu. E agora dizem por aí que ela habita não mais neverland, mas, a terra da verdade. Das contas a pagar, do despertador que toca invariavelmente às sete da manhã todos os dias. Eis que a liberdade bate em sua porta com todos os seus ônus e bônus.

Do caminho a seguir resta a fé de viver dentro da falta de tempo uma vida ainda em cor de rosa. Porque, creio eu, que quem aprendeu a sonhar algum dia nunca mais desaprende. É como andar de bicicleta. É como o vício da linguagem, tão incontrolável quanto minha vontade de jorrar palavras.

Porque aconteça o que acontecer eu vou na fé, com fé. Pra onde Deus quiser.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

My shining star....


Lembro-me bem daquela risada gostosa, daquele jeito de viver a vida. Aquele jeito de quem sabe que veio ao mundo pra trazer alegria. Lembro de como era aquele abraço protetor e lembro que quando atravessávamos a rua você segurava a minha mão. Era sua forma de me dizer que você estaria ali, mesmo quando seu jeito molecão te impedia de bancar o irmão maduro.

Lembro os chops que tomávamos, os comentários e aquele nosso jeito debochado. Lembro dos esporros bem dados, dos presentes de Natal. De como você guardava seus presentes no cantinho da sala para que eu, aquela garota mimada, não mexesse no que você havia acabado de ganhar.

Lembro-me dos planos traçados para esperar Papai Noel e descobrirmos o bom velhinho. Lembro-me das brincadeiras no play. Das brigas de irmão. Do primeiro porre tomado juntos, da sua maneira simples de enxergar a vida.

Lembro bem do seu primeiro amor, lembro bem de como compartilhávamos tudo. Dúvidas, noites de bom papo. Um dia eu cresci, e você continuava ali, continuava a me proteger como se eu ainda tivesse cinco anos.

Lembro de como você entrava no meu quarto, puxava a minha coberta só pra implicar comigo. De como era querido com os mais velhos e amável com os mais novos. Lembro dos puxões de orelha que tive que te dar. Das suas piadas.

Você foi um presente que alguém lá em cima resolveu colocar na minha vida. Meu meninão, meu amigo, meu cúmplice, meu parceiro, meu irmão.

Meu amor de sempre, hoje você é mais uma estrelinha no céu. Com certeza, minha estrela guia. Que os anjos te recebam e que o céu esteja em festa com a sua chegada.
Porque dentro do meu peito você sempre fará morada.

Fabio, meu irmão, da sua mana que nunca vai te esquecer e pra sempre vai te amar. Um breve até logo e a certeza de que de alguma forma estaremos juntos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Do mel e do féu...


Ana não sabia andar na linha. A única linha que conhecia era do seu corpo e da meada dos seus desejos. Nenhuma linha finita interessava, porque Ana é infinda no que sente, no que vive e no que a faz tremer. Porque nada que não tivesse gosto de mel e féu simultâneamente a interessava.

Andou uma época, é bem verdade, procurando sua paz. De fato, empenhou esforços nessa decisão. E enfim, a encontrou. Paz. Mas o fato é que desde então tinha de volta suas noites de sono, dormia tão profundo que anestesiava. E Ana não gostava das noites bem dormidas. O que lhe aguçava mesmo os sentidos era ir e vir entre uma lua e outra.

Aquela paz era tão morna, que Ana mal suportava. Descobriu, então, que gostava de viver entre vulcões. No calor da lava que lava a alma. Porque não era puta, tampouco se assemelhava a qualquer santidade. Mas gostava de sentir a iminência do queimar.

Olhava para a porta e aquela paz a sufocava. Quase como um ato de desespero, Ana pegou sua bolsa e o dinheiro que havia em cima da mesa. Calçou o seu habitual salto doze, se maquiou de urgência, de paixão.

E ali encontrara sua paz. Bem ali, no turbilhão do que se sentia. Nas possibilidades que se escancaravam no exato momento em que batera a porta e saíra. E dessa vez, sem hora para voltar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Da falta de ausências...


Nunca sofri de ausência. Ausência de afeto, ausência de amor, ausência fraterna. Jamais as palavras deixaram de caminhar ao meu lado, como companheiras e cúmplices de uma história que conto em tom vermelho vívido.

Nunca sofri da ausência de sentidos. E hoje, mais do que ontem, sinto. Sinto o calor do homem amado, do abraço apertado, das nossas horas. Sinto uma completude que enobrece a alma e enriquece uma trajetória temperada de cardamomo.

Sinto-me completa de alegrias que ainda estão por vir. De um prenúncio que embala meu ventre e que dança pelas minhas curvas. Da dança da vida, tão rica. Do hoje, do amanhã, do sempre. Do ciclo encerrado, do abraço apertado, de você ao meu lado. Porque tudo começa e se encerra na minha vontade de ser.

De ser um pouco diva, um pouco amiga, um pouco amante. De ser aquilo que me cabe, que me sacia, que me torna viva. Porque só quem conjuga o verbo sentir, vive. Só quem sente transborda. Não que a razão não seja fiel escudeira, mas, mesmo ela sente.

Das palavras que pari, nenhuma delas me apetece mais do que amor. Amor de entrega ao que, e a quem se ama. Daquele que caminha junto, que vibra. Da poesia que vejo na roda viva, vida, fugaz.

Da poesia que carrego no sobrenome. Carlos Drummond Andrade, Mário de Andrade, Eugenio de Andrade, Luciana Andrade. De tudo que quero e se quero, posso. Nada me estanca, porque flui como cachoeira.

Do que se sente e fim.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Do que é plural...


Um dia você acorda e descobre que a primeira pessoa do singular caiu em desuso e que agora você só sabe pensar no plural. Nós. E que planos nunca feitos, nunca pensados, se tornam tão palpáveis quanto todas as noites em que estamos tão juntos que somos um só.

E que nada se configura obstáculo para duas pessoas que sabem onde querem chegar. Porque seu sorriso foi feito pra iluminar minhas dúvidas, pra apontar a direção que leva a nós. Porque seu abraço foi feito pra me dar conforto nos dias e nas horas em que só você me basta, só você me completa.

Porque nada é mais pleno do que duas pessoas que se esbarram ao acaso, não tão acaso, e comungam de uma sensação de eternidade. Porque assim é o que sinto, porque assim devem ser todos os sonhos que ainda vamos construir.

Porque nunca houve um brilho nos olhos que justificasse a nobreza do que se sente com a alma. Porque nunca houve quem fosse capaz de me fazer sentir como só você o faz. Porque basta. Basta que você esteja ao meu lado para que seja completa. Completa de sentidos mais completos ainda.

Porque quando se caminha junto a vida é assim, mais forte e pulsa. De amor. Amor tão meu, tão seu, tão nosso. De todos os momentos tão nossos e únicos. Únicos do que não escorre em palavras, do que só se sente.

Um sonho tão lúcido quanto a vontade de estar junto daquele que me faz pensar em uma vida a dois tão vasta de cumplicidade. Porque hoje é dia de sorriso largo, de completude, de paz.

Porque, nem mesmo, algum dos quinhentos mil deuses inventados pelo homem seria capaz de separar duas pessoas que têm uma vida inteira pela frente. Porque a vida cruzou nossos caminhos para que seguíssemos juntos.


 Detonautas - Você me faz tão bem - acústico

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Do que é maior...


Se eu pudesse voltar a algum dia, com certeza, seria aquele em que você me pediu que fosse sua. Exatamente naquele dia em que você ainda acreditava que tudo o que tínhamos pela frente era, tão somente, uma vida inteira.

Se eu pudesse retornar a um momento bastaria que fosse um dos muitos felizes que vivemos. Se pudesse retornar a um lugar seria ao seus braços. Porque ali é meu verdadeiro lugar. Se eu pudesse voltar a sentir. De certo sentiria tudo o que senti e sigo sentindo por você.

Ninguém me disse que amar era obra fácil, todavia farta. Farta de sentir, farta da sua ausência, farta de todos os segundos que lembro de você. Não é o tempo que delimita a intensidade das vivências e sim o quão profundo optamos por mergulhá-las.

Porque agora é tão difícil deixar de sentir seu cheiro mesmo na sua ausência. Porque é tão duro não ver seu sorriso ao meu lado. Porque desaprendi a caminhar sozinha, não por limitação de criança que precisa de apoio. Mas por não ter planejado caminhar só daquele dia em diante.

Não se vive pela metade, não se ama pela metade. O amor já é inteiro em si só. Já é pleno do poder mais sutil que há na vida. E sua razão de ser em si. Porque só vive quem ama. E só ama quem um dia viu seu caminho cruzar com um sorriso maior. Com uma cumplicidade que quer ser um pouco mãe, um pouco filha, um pouco amante, um pouco paz, um pouco turbulência.

Nada que me é estanque completa o que me falta. Não falta. Transborda de sensações que doem mas me levam para perto de você. E isso por si só, basta.

Para o meu amor maior!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Do que comove...


De todas as coisas que me comovem nada me faz crer mais no potencial do ser humano do que a amizade. Porque amizade não se cobra, não se agradece. Amizade é doação, é entrega, é força. Amigos são extensão do nosso ser.

Creio eu, que são anjos enviados para tornar essa empreitada chamada vida em uma caminhada mais prazerosa, mais amena. Amigos são nossos braços quando estamos cansados demais para construir, nossos olhos quando não conseguimos enxergar, nossa razão quando o que nos falta é lucidez.

E creio que é na dor em que se destacam as pessoas que realmente fazem a diferença, que fazem a vida ter o valor que tem. É quando se precisa de um colo, e se tem a certeza de um ombro amigo.

Todos os dias agradeço por ser cercada de pessoas tão especiais, porque são elas que realmente fazem a diferença. Meu amigos, minha vida!

" Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos"
Vinícius de Moraes

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Qualquer forma de amor...


Existe aquele tipo de pessoa que está longe da perfeição, que está longe de ser o padrão ideal, que não chega em um cavalo branco. Mas que tira seu fôlego, que faz seu olho brilhar, que transforma um dia comum em um dia especial. Que certamente vê poesia em tudo que há na vida.

Com certeza, essa pessoa algumas vezes vai te arrancar suspiros e algumas outras vai fazer você chorar. Mas, quando do encontro, não resta dúvidas. É aquela pessoa que te faz sentir viva, que vai te arrancar suspiros e que vai fazer você achar graça das coisas mais cotidianas.

Existe um tipo de pessoa que se dispôs a dividir seus momentos mais importantes com você. Sejam eles tristes ou felizes. Aquela pessoa que cuida de você quando você fica doente, que toma sorvete em uma tarde de verão e que vive dias de edredon quando o frio invade.

Aquela pessoa que, com certeza, vai te tirar do sério algumas vezes e que logo em seguida vai te pedir desculpas. E que vai entender que às vezes o silêncio é sua melhor companhia. E que vai te abraçar sem dizer uma palavra. Porque ela sabe exatamente o que te basta.

Existe, ainda, aquela pessoa que vai fazer da única noite que tiveram juntos um momento inesquecível que merece ser guardado em algum cantinho especial. Aquela pessoa que só passeou na sua vida porque só precisava de um instante para deixar algo de bom.

Existe aquele tipo certo de pessoa errada, que em nada se parece com você, que em nada concorda com você. Mas...Por alguma razão desconhecida foi a eleita para te fazer sorrir como criança e escutar jazz em tardes de domingo.

E quando nenhum desses tipos de pessoa aparecem, alguém lá em cima nos brinda com um outro tipo de pessoa. Que certamente vai brindar sua alegria, comemorar suas vitórias e torcer incondicionalmente por você. O tipo de pessoa chamado AMIGO.

Então, que hoje seja comemorada qualquer forma de amor. Dos amantes, dos irmãos, das almas gêmeas.

Para quem tem namorado um feliz dia dos namorados e para aqueles que não têm, brindemos à vida! Ao amor, à amizade, à esperança e à alegria!


 Lauryn hill - Can't Take My Eyes Off You

quinta-feira, 4 de junho de 2009

So smooth...


Confesso. Posso fingir o que quiser, posso até ser uma lady se assim me convier, mas não consigo negar quando algo me arde. Quando algo me faz queimar a pele feito sol de verão. Quando algo me acelera e não tenho a menor intenção de slow down. É bem verdade que vivo conectada a algo que me faz vibrar, e é bem verdade que ,de repente, em um clique, algo me acende.

Então, não me interrompa, não me freie, não me peça para ser morna. Não ignore a combinação exata. E não me peça para descer da mesa. Não me toque enquanto eu não permitir e não deixe, jamais, de saciar minhas vontades.

Não me peça para medir o tamanho dos meus quereres e tampouco para que os reduza quando meus olhos gritam de anseio. Não me irrite, porque se você o fizer, serei obrigada a deixar minhas marcas. Não pense que alguém pode passar ileso de minhas vontades.

Não vá, mas não fique. Não demore, mas não parta antes que eu termine. Não questione, não reflita. Entregue-se. Porque assim são os momentos que valem a pena. Aqueles sem pré e pós reflexão.

Vem comigo que te mostro o necessário. Só aquilo que não se vê com os olhos mas se sente com a alma. Vem comigo.

Sem o amanhã e o ontem se vive o momento pleno, aquele que não precisa de justificativa para acontecer ou por ter acontecido. Entreguemo-nos à nossa insensatez e por algumas horas sagradas o relógio há de parar. Só para que eu me sacie de você, só para que você não esqueça de mim.

Sem mais nem porquê. Cause it has to be this way or else forget about it...


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tão pouco...


De tempos em tempos borbulham na boca do meu estômago palavras que estiveram ali uma vida e meia mas, que por algum motivo especial, tiveram seu tempo de jorrar. É como se elas estivessem a espera do tempo que as coubesse. Como um feto aguarda nove meses. Caso contrário, corre o risco de vir inacabado e frágil de incubadora.

Minhas palavras só brotam quando estão prontas, antes de solarem no forno que me habita, mas, não antes de seu tempo de nascer. Na verdade, acredito mesmo, que elas surjam quando perco formato. Quase como um veículo de redenção de uma parte de mim que não se acha e nem se perde. Estanca.

Só não entendo exatamente qual a parte de mim que fica agora. Sim, porque tudo fica, e não está permanente. Sou fluida como riacho e tenho dias de ressaca violenta de mar. Daqueles que destrõem aterros, que devastam qualquer existência. Em quanto amor de mim cabe tudo isso?

Em quantas interrogações cabem as dúvidas do meu ego? Em quantos pontos finais cabem minhas dívidas emocionais? Em quanto tempo se resolve o que se leva uma vida para entender? Em quantos entraves me divido para me justificar? Em quanto de risco há razão? Em quanto de tesão me cabe o gozo?

Porque não estou perdida, sem rumo. Apenas com uma imensa preguiça de percorrer o caminho necessário. Não que tomar decisões me pareça um bicho de sete cabeças mas arcar com seu peso é o que, não me trava, mas asfixia.

De acreditar no ser humano e me jogar na vida, porque, na razão pura se encontra o ardor das maiores paixões. Das paixões que superam a mania incontrolável, incontestável de racionalizar para que tudo caiba na palma da mão. Mas o que cabe na palma da mão, em geral, é muito pequeno pra quem vive de transbordar. Porque talvez a dor tenha uma relação dialética com o poeta. Nutre mas destrói.

Assim como meus amores inventados para provar de uma vã ansiedade de mim mesma. Todos eles com um único fim. Esmagados quando outro mais interessante é encontrado sem querer, em meio ao caminho.

Quase sempre funciona assim. E de tempos em tempos jorro palavras. Como se muito fosse muito pouco. E bastante não o suficiente.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Agora tanto faz...


Eu poderia lançar mão da minha racionalidade barata e dizer que sou um mulherão para você, que essa história é só para me distrair, que não passa de um passatempo, algo quase similar a uma palavra cruzada.

Ou ,eu ainda poderia alegar aquelas questões químicas que ocorrem quando um homem e uma mulher se cruzam pelos caminhos da vida e de repente. São um só. Mera questão física. Nada que justifique um suspiro ou um sorriso a toa.

Ou quem sabe eu possa fingir que as mensagens que trocamos não passam de uma certa ocupação quando falta o que fazer nas madrugadas.

Melhor, vou arquitetar toda uma estratégia para me convencer que somos diferentes, que você fala japonês e eu francês, que na prática os opostos se repelem. Que uma mulher inteligente sabe até onde deve ir.

E quem sabe eu me convença de que meu corpo não explode quando encontra o seu, que não passamos de dois estranhos em busca de uma aventura qualquer. Que isso tudo não passa de uma grande piada.

Vou negar que o destino nos colocou no mesmo lugar porque assim tinha que ser. Nada de destino, apenas uma mera coincidência. Dessas sem a menor importância, que acontecem todos os dias.

A grande questão é que toda a minha pose decidida não tem a menor importância. Que destino ou coincidência não fazem o menor sentido. Que racionalizar não cabe. E que de uma forma ou de outra vivemos o que temos que viver. Agora tanto faz. Você e eu ocupando um mesmo lugar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Do que é pleno...


Porque se padeço de algum mal, seu nome é plenitude. Porque sou plena em minhas vontades, sou plena de desejos que são plenos na vontade de serem saciados. Nada me habita que não seja pleno. Pleno de energia e querer. Nada pode vir em pedaços. Das marés que jorram de mim, todas elas plenas.

Não me peça para não ser plena. Tampouco na chegada e muito menos na saída. Não sei ir embora sem causar um vendaval, sem que minha despedida seja holywoodiana. Não sei pisar em ovos e ser doce sem qualquer tipo de peçonha.

Se algo me marca, marca como ferro quente, não sofro de amnésia, a menos que seja do tipo seletiva. Costumo viver meus dramas como novela mexicana e tendo a encerrá-los como Merlyn Monroe. Derramo lágrimas de champagne e mergulho facilmente em suas borbulhas que em questão de segundos me carregam de volta ao meu devido lugar.

Não suporto aquelas frágeis criaturas que vivem na janela a espera. A espera do amado que nunca chega, a espera do momento certo, a espera da vida, de algo arrebatedor. Não, definitivamente não suporto as mal comidas, as pudicas.

Se amo, amo pleno. Se não gosto, não gosto na mesma proporção. Não finjo gozo e não termino antes que alcance o pleno. Não disfarço o que meu corpo clama, não despejo palavras sussurradas e tampouco desperdiço adjetivos.

Se vivo, vivo plena. Não sei viver com o dinheiro contado, sem roupas novas no armário, sem um sonho que impulsione, sem um desafio que se vença. Não saio de casa sem um bom corretivo e sem meu salto alto.

Se caio, caio plena. Plena de graça e anseio por levantar. Porque quem não cai, não aprende a se reerguer e uma vida em linha reta, me parece, no mínimo, insossa. E quem não ri de suas quedas, endurece, cria casca.

Se eu quero, ah eu quero. Porque não sei querer só um pouquinho, e não me sacio com pouco. Quero muito, muitos. Tenho sede dos quereres e se não há nenhum em mente, crio. Invento. Por que se sou eu quem faço minha história, a faço como bem entender, certo?

Então no fantástico mundo de L.A. sou minha diva, bem criada, bem amada e bem comida.

 Hooverphonic - Mad about you

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Oração da Diva


Que jamais falte beleza diante dos meus olhos;
Que jamais faltem amigos me cercando;
Que nunca eu me embriague do meu ego;
E que meu ego inflado não mascare minhas fraquezas;
Que haja sempre, pelo menos, alguém em sã consciência que me enxergue como eu sou;
Que eu me ache genial sem que para isso use de soberba;
Que eu saiba aceitar o não mesmo quando ele não é frequente em minha vida, e é isso que o torna mais difícil;
Que eu saiba lidar com a indiferença;
Que eu sofra mas sem descer do salto;
Que eu entenda que nem sempre encontrarei pétalas pelo caminho;
Que eu esteja sempre cercada das pessoas que realmente valem a pena;
Que eu saiba rir de mim mesma;
Que eu jamais endureça;
Que eu jamais deixe de pisar firme;
Que eu jamais abra mão do que acredito;
Que jamais me falte champagne e jaz;
Que eu nunca perca o brilho nos olhos ;
Que jamais me falte tesão;
Que eu tenha sempre orgasmos múltiplos;
Que eu nunca tenha rugas e jamais esteja acima do peso;
Que eu saiba escolher o lord que merece estar ao meu lado;
E que eu seja sempre consciente de que vale quanto pesa.

Amém

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Antiquada...


Confesso uma certa resistência em não ver poesia nas coisas, mas há horas em que se há de enxergar um pouco em prosa. Andei pensando no que já dizia o poeta “ o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Certas coisas me fazem pensar que é nesse estado de anestesia em que vivemos hoje.

Se esse tempo merecesse classificação, o classificaria como a “era do tudo pode”. Pode ser desleal, pode dar no primeiro encontro, pode esquecer uma grande amizade quando seus interesses falam mais alto, pode magoar terceiros desde que nunca, jamais em tempo algum se deixe de olhar somente para seu umbigo. Pode também ver criança na rua e achar normal, pode ver político corrupto e não reagir.

Não, não estou tentando aqui defender a moral e os bons costumes. Sempre fui dessas divas meio atiradinhas, daquelas que chocam familiares mais conservadores com suas opiniões. Mas tudo tem limite. Só 0 sobre 0 é infinito.Acho que essa é a única excessão que conheço para o limite.

Fico pensando em qual sentido dar a certas coisas que, infelizmente, hoje em dia me parecem antiquadas. É antiquado amar um só, o bom mesmo é amar vários na superficialidade e não amar ninguém. Ok, se isso é uma fase da vida da geração que já sabe namorar e é de tudo mundo e todo mundo quer bem, que assim seja. Mas cada dia, os laços me parecem mais frágeis.

Cresci ouvindo meus pais me ensinarem o valor da amizade, o valor do respeito pelos mais velhos e também pelos mais novos. Aquela velha máxima, que também já deve ter caído em desuso,não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você.

Acho que do alto da minha vida moderninha, do meu jeito descolado, da liberdade que canta em meu peito fiquei antiquada. Porque não consigo achar normal deslealdade, falta de amizade, falta de sinceridade, atrocidades.

É pai virando filho, filho virando pai aos quinze anos. É uma falta de caretice inacreditavelmente careta. Inadequada, inapropriada. O legal mesmo é se permitir no carnaval. Afinal, no carnaval tudo pode. Não compreendo muito bem esse rito, porque pra mim tudo pode, todo dia.

Mas confesso que me peguei sendo antiquada, anacrônica, careta e velha como dizem as más línguas. Só porque cometi o crime de ter valores e princípios. Se a ignorância é companheira da felicidade como reberveram por aí, opto por não ser feliz. Pelo menos não a felicidade do senso comum. Se fazer o bem sem olhar a quem e viver sim, como se cada dia fosse o último mas, sem que para isso, tenha que passar por cima de ninguém é antiquado. Sou ré confessa.

Confesso, sou antiquada. E por mais estranho que seja me orgulho disso.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Não


Não me diga o que fazer, não porque me soe como autoritarismo, mas porque sei exatamente onde devo pisar. Não me diga o que não posso e o que não devo quando sei exatamente das minhas desvontades. Não me diga onde não ir quando sei exatamente onde quero chegar.

Não me diga que não posso o que pulsa em mim, porque ainda assim eu vou. E vou com a força de mulher que pare. Porque quem pare joga no mundo um pedaço de si e há de se aprender a deixar ir. Não me diga não quando tudo que quero é um sonoro sim. Acredite, se eu quero, eu posso.

Não me diga pra ser mais uma na multidão, para não brilhar, para não fazer pose, para esquecer todo o meu eu que canta liberdade. Não me amarre em pensamentos que não são meus. Não me prenda em suas amarras e não me faça acreditar que são minhas as sua dúvidas e seu medo de viver inteiro.

Não me faça acreditar que não valeu quando cada segundo que vivo tem a intensidade do início e fim em si mesmo. Não me faça borrar a maquiagem com lágrimas que deviam escorrer de sua íris enquanto me vê indo embora. Não me enlouqueça se não pode se soltar de suas tragédias pessoais e embarcar comigo.

Não me negue o direito ao cio quando me encontro quente a ponto de entrar em ebulição. Tampouco, enumere minhas qualidades porque sei exatamente o que me sobra e o que me falta. Não queira entrar em meus lençóis se não pode me dar a madrugada.

Não acelere se não está preparado para avançar meus sinais vermelhos. Não se faça presente se não for para me surpreender. Não me diga o que fazer e não me faça acreditar que a interrogação sou eu. Não me veja em reflexo.

Então, que se faça um trato. Nada de recato, de pudores, de falso moralismo. Você dita as regras, eu burlo todas elas. A gente se invade e se separa. Você afirma, então, sua sensatez e eu meu atestado de loucura. Porque se não for insano de nada adianta ter vivido.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Vilarejo...


De tempos em tempos sinto algo quente em meu ventre. Como se fosse criança querendo ganhar vida. Como se fosse o gozo do meu amado. Algo que vem como se quisesse me presentear e me inunda de uma sensação de plenitude.

Como se encontrasse flores na chegada e pétalas na saída. Porque é assim que me acostumei a ser recebida. Com rosas que exalam o mais cítrico dos perfumes, com a candura de um girassol.

Porque quem tem a alma em festa é convidada todo dia para se deixar levar ao vai da valsa. E assim, a dança- vida inunda minhas tardes coloridas. Das mil cores que pinto minha face para que ao cair da noite feito diva eu desfile por aí.

Da simplicidade de um vilarejo que abriga muitas histórias de uma gente simples mas que carrega consigo sabedoria de criança que ainda não foi contaminada pelos polimentos da boa educação. Olhar doce de um lugar em que as ruas de pedras não combinam com meu habitual salto doze.

De uma imensa e incontida felicidade que só se alcança quando se deixa as amarras de lado e se abre para dias com gosto de chocolate. Do chocolate quente ao fim da noite, do contato com o silêncio do fundo do mar. Do presente de um sorriso sincero.

E é assim que de tempos em tempos nada precisa ser dito. Porque tudo está em seu devido lugar, na mais perfeita harmonia. Como se o silêncio dissesse amém para comunhão de corpo e sentidos.

E ali, era só fechar os olhos e sentir.

Queridos, é tempo de renovação depois de dias maravilhosos em um paraíso cercado por mar e gente bonita e boa.

 Marisa Monte - Vilarejo



Queridos, também estou aqui: NO BANHEIRO FEMININO!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Questão de ponto e vírgula...


Faltava só um ponto e vírgula para descobrir que tudo é uma questão de permitir-se. Da permissão de sentir nascem as aves mais raras de pouso tranquilo. Daquelas que mais parecem bailar pelos céus como se provocassem o sol.

Bastava descobrir que se carrega todo o necessário dentro desse músculo que pulsa, ora de dor, ora de contento. Porque só vive quem sente. E para sentir é necessário que se permita. Permita deixar a armadura de lado e experimentar o mel e o fel de cada minuto em que se descobre.

Porque o ser humano é assim, vive se re-descobrindo porque é constante mutação. Assim, fui feita da matéria que muda e enquanto estive na contramão das mudanças vesti o verbo racionalizar como escudo. Não que a razão seja inimiga, desde que não aprisione e petrifique.

Mas, quando se tem o amor de si mesma exposto como colar de pérola no colo da moça mais faceira, tem-se a razão da vida. Porque quem ama dança e quem dança sente. Sente a liberdade da morada-corpo. Por essa razão, tenho me permitido dançar sempre que preciso lembrar como é sentir.

E sempre que sinto inicio um processo de auto-entrega, de permissão. Permitir a não ser só dona decidida que sabe onde quer chegar. Permito-me, então, a me apavorar com um futuro próximo, das dúvidas da profissão. Permito-me a chorar feito louca pelo estacionamento só porque naquele dia achei que não tinha a menor vocação para o meu trabalho, pela discussão.

Permito-me não ser apenas pilastra. Dou-me o direito da interrogação. Tudo bem, algo pode ser bom e mau ao mesmo tempo, assim como as minhas ambiguidades. Posso querer não querer, ou posso, até mesmo, me agarrar no que acho que quero só para não me dar ao trabalho de entender o porquê.

Posso caminhar sozinha, posso dar risada, posso fazer pose. Posso caminhar no tapete vermelho ou simplesmente comer em boa companhia no bistrô de uma livraria. Posso ler
bons livros e posso e acredito que a ventania que habita em mim corre solta feito criança.

E foi quando dei a pontuação correta que descobri que posso, ainda, ter alma de criança.

 Soup Dragons - I'm Free


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domingo, 29 de março de 2009

Dos acordos...


Inacreditavelmente permaneci alguns longos minutos em frente a página em branco. Sentei para escrever, na verdade sem nada em mente para escrever. Mas senti a necessidade de jorrar palavras. Só não sabia quais. E aquela falta de assunto, falta de letras, confesso ter me causado uma certa angústia. Uma claustrofobia de mim mesma. E nesse momento senti uma enorme vontade de acender um cigarro, como se ele pudesse trazer de algum canto perdido minhas inspiração. Mas acabei lembrando que parei de fumar.

Estava eu ali, frente aquele objeto de formato cilíndrico e capaz de me causar um enorme prazer. Não, o objeto em questão não era um vibrador e sim um cigarro. E diante daquela imensa frustração começaram a pipocar idéias em minha cabeça. Que fique claro aqui que a frustração não se devia ao fato de não acender aquele objeto, o que me martirizava era o fato de bem diante dos meus olhos comprovar que estava prestes a descumprir o acordo que havia feito comigo mesma.

De repente me deu o insight de que, em grande parte, nossas frustrações se devem ao descumprimento daquilo que acordamos com nós mesmos. Não seria aquele único cigarro o responsável por desencadear todas aquelas doenças que já sabemos que o maldito causa, visto a enorme quantidade de nicotina que coloco em meus pulmões desde os treze anos de idade. O que me faria mal é comprovar a impossibilidade de manter com o que planejei para mim.

E nesse momento em que comprovei o porquê da frustração, imediatamente, se iniciou um processo de barganha. É, isso mesmo, barganha. Eu lutava com todas as forças e lançava mão dos maiores e dos menores argumentos para aquietar a minha mente. Expliquei a ela, num processo completamente irracional que aquilo me faria muito mal e que quanto mais eu adiasse pior seria. Que já estava mais do que na hora de por fim naquele relacionamento duradouro.

Mas como todo relacionamento, porque alguns me parecem até mais cancerígenos do que o cigarro, nossa separação foi dura. Minha criança interior, confesso já meio crescidinha, me afirmava que aquele seria o último, como um beijo de despedida. Mais uma vez a barganha. Mas pra que descumprir com todas as minhas metas, ignorar todo o meu esforço até o dado momento em prol de um único instante de alegria, uma falsa alegria.

Acredito que quando tomamos uma decisão devemos conviver com ônus e o bônus de forma pacífica. Afinal, não dá para tomar um picolé de brigadeiro e não ingerir junto com ele as suas milhares de calorias. Pronto, chego ao final desse texto com meu acordo devidamente cumprido. Nada de cigarro. E que fique aqui registrado que o gozo de ser dona das minhas vontades e de perceber valor em minhas decisões é muito maior que o gozo que aquele objeto cilíndrico exalando fumaça.

Que todo relacionamento, independe de sua origem uma hora tem seu fim. Assim funciona com cigarros, homens e mulheres.



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segunda-feira, 23 de março de 2009

Daquela varanda...


E aí eu fiquei pensando que apaixonar-se por si mesmo pode ser uma trajetória das mais interessantes, ou não. Tudo depende de como vamos olhar para dentro, se com olhar de Hitler que faz da palavra ordem, repressão, ou se com olhar de mãe. Porque mãe é conhecedora exímia de cada um de nossos defeitos e é capaz de apontá-los para que nos tornemos pessoas melhores.

Não entendo o porquê do temor da solidão. Não digo solidão perpétua da imposição de assim ter que ser. Digo da solidão opção, de estar consigo mesmo porque nada nem ninguém é melhor companhia para si do que nós mesmos. Fico pensando que, talvez, a explicação esteja na sociedade em que vivemos onde tudo é consumo, talvez seja isso, consumir o tempo de qualquer maneira (produtiva ou não) para não lidar com o vazio.

O que se perde aqui é que, também o vazio, pode ser e na maioria das vezes é construtivo. Porque ele traz a tona o que estava ali pedindo para ser assimilado. Enxergar o que precisa ser visto pode ser trabalhoso.

Dizem por aí que o sofrimento é opcional. E acabo de acreditar que a dor também pode ser. Porque muitas vezes vivemos dores que não são nossas. Das culpas,dos medos, das transferências. Muitas vezes optamos pelo caminho da dor porque assim fomos criados, assim nos foi imposto pela sociedade judaico cristã, que acredita que grandes vitórias requerem alguns sacrifícios. Já começa errado daí. Porque não fazer do caminho um lugar prazeroso de se habitar?

Não entendo muito bem essa coisa de que os fins justificam os meios. Na maioria da vezes ficamos tão presos ao objetivo final que nos esquecemos da celebrar as pequenas conquistas. Parto do pressuposto que a vida deve, sim, ser comemorada. Não dizem que a guerra é feita de pequenas batalhas? Então, porque não comemorar a vitória das pequenas batalhas que travamos a cada dia com os outros e com nós mesmos?

Por que não colorir e viver sempre em sépia? Ando pensando nessas sutilezas diariamente. De menos, bem menos. Porque caminhar mais leve é sempre bem mais agradável. Difícil livrar-se do que não serve mais. Creio eu, que ao longo de nossas vidas vamos preenchendo nossas mochilas com aquilo que julgamos ser necessário, e muitas das coisas, de fato o são. Mas, uma hora a gente cresce e aquele sapato fica apertado no pé. Mas o sapato era tão bonito, e de mais a mais vivi tantas coisas boas calçada com ele. E nesse instante, a coragem de doá-lo para outra pessoa, que com certeza, nesse momento faria melhor uso dele vai para o ralo. E ali ele fica. Guardado na mochila. Sem função.

Acho que assim também são os sentimentos. Muitas vezes guardamos a sete chaves emoções que já não cabem mais no atual momento só porque um dia foi bom. O que esquecemos é que não se vive de foi e sim de é.

Por esse motivo, de tempos em tempos faço a limpa no armário e o que não me serve mais, dou. Para alguém que certamente fará melhor uso que eu. Para alguém que vá saber dar o exato valor daquilo que para mim já deixou de ter.

Seria tão mais fácil se o processo do desapego não tivesse que ser doído e pudesse ser curtido com todos os seus sabores, até o sabor da saudade. Porque se algo deixa saudade é porque por algum instante, por menor que ele seja, foi bom. E se foi bom porque esquecer? Não reviver, apenas deixar guardado em um lugar em que se possa visitar.

Penso nisso a cada vez que visito aquela varanda, naquele dia em que eu tinha certeza de que algo se iniciava. O que eu não sabia é que algo poderia ser tão inesquecível. E de tão inesquecível é sempre relembrado por nós. De tantas e imensas coisas que vivemos, que só é verdadeiramente grande para nós.

Porque você sempre me diz tanto com o seu silêncio, com o seu sorriso. Porque sempre foi tão real que nem o tempo, nem as mudanças foram capazes de apagar...


 Limp Bizkit - Behind Blue Eyes

segunda-feira, 16 de março de 2009

Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar...


Que fique bem claro que aquele não era um corte de cabelo qualquer. Não era, tampouco, um ato desesperado em prol de uma mudança que deveria ser interna, mas que como não fora possível, me serviu de consolo minha imagem diferente refletida no espelho.

Também não era um corte pra revolucionar, na verdade, dizem aqueles entendidos de madeixas que cortar o cabelo de tempos em tempos o torna mais forte. Dá força pra crescer. Sempre achei meio esquisito essa coisa de cortar para crescer. Não seria o contrário?

Agora entendo exatamente o pobre do meu cabelo, porque no fundo entendi que somos assim. Assim como cabelo, de tempos em tempos há de se cortar o que é demasiado pesado para que se possa crescer. Ah, se eu soubesse disso antes. Talvez adotasse um chanel.

Mas voltando ao corte. Do cabelo. Havia algo de redenção em ver aqueles fios no chão. Ao contrário da maioria das mulheres que sofrem de uma espécie de depressão pós corte, aquele ato me libertava. Talvez fosse a transmutação do desapego (visto que ainda não consigo me desapegar dos meus scarpins e da minha incrível coleção de óculos escuros).

Arrisco até a dizer que o visual não era o que mais importava e sim a simbologia daquele momento, em que deixo algo que já não me pertencia mais para trás. Ou talvez eu acredite que na atual fase da minha vida, madeixas mais curtas combinem bem com meu estado de espírito. Curta e grossa.

Ou talvez o meu pescoço a mostra evidencie os meus despudores e minha relação pacífica com a nudez. Das roupas e dos pesares. Ando assim, meio, ou melhor, completamente despida de qualquer um daqueles sentimentos que impedem o crescimento.
Ando me divertindo com meu vizinho que se põe a postos em sua janela enquanto me observa com minha mania de andar como vim ao mundo pelo meu apartamento. Quer olhar, olha. Azar ou sorte sua querido voisin.

Sabe o que eu acho? Que vou aderir a essa coisa de ter menos, sabe. Menos cabelo.Sinto-me mais livre assim. Acho até que vou abrir um champagne pra beber com morangos enquanto danço jazz. Sim, tudo isso pra comemorar o novo. O novo corte, ou cortes daquilo que tiram força para que se cresça.

Acho que esse ritual (porque cortar o cabelo para mulheres trata-se de um ritual, dos mais sagrados) mexeu muito com minha cabeça, com o perdão do pobre trocadilho. Agora sim, vou andar exibindo meu pescoço e minha falta de vergonha por aí.
Vizinho querido, mais uma novidade pra você! Amusez vous!

 Alceu Valença - Tesoura do Desejo

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Tempo, tempo, tempo, mano velho....



Sabe daquelas coisas que você jura que nunca vão acontecer, do mal que você nunca vai padecer?

Nunca me pude ver sem a escrita, sem que as palavras escorressem do meu umbigo direto para o pedaço de papel mais próximo. Nunca me vi sem ídéias... Aliás, dizem por aí que nunca viram alguém com tantas idéias.

Nunca viram uma garotinha que tivesse mais resposta pra tudo. Nunca ninguém soube rir da vida mais do que a debochadinha que vos escreve.

Pois bem, eis que é chegado o dia em que as palavras não gritam mais por sair e na verdade se misturam tanto que ficam de fato no caos da desordem. E desconexas, nada coesas.

Então, enquanto eu não voltar a ser a garota carioca swing sangue bom, vou me ausentar uns tempos daqui. Não, isso não é uma despedida. Apenas um até breve. Até que eu consiga colocar a casa em ordem. Por enquanto em nada posso contribuir e me recuso a escrever qualquer coisa. Porque só escrevo aquilo que pulsa. E se nada pulsa, não há razão de ser em uma letra sequer.

2009 finalmente começa e espero que as coisas achem seu rumo. Enquanto isso, vou sem pressa!

A todos que sempre são tão carinhosos em suas visitas meu abraço apertado e meu hasta pronto! Bons ventos me trarão de volta, quando tempo resolver correr macio.

 Pato Fu - Sobre o Tempo

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Das coisas tão mais fáceis...


Seria tão mais fácil se você entendesse que quando digo não quero dizer sim, mesmo quando eu posso jurar que não é a melhor coisa que poderia acontecer. Seria tão simples você entender que eu sou assim meio doida, meio de lua. Meio quero e não quero, mas que a intensidade com que desejo as coisas é invariável.

Se esse furacão virasse calmaria nem eu me reconheceria em meio a tantas indas e vindas de mim mesma. Porque no fundo, acho que gosto de ser assim mesmo. Ir e vir na hora em que melhor me convier. Só não gosto quando isso é reflexo do outro.

Seria tão mais fácil se eu tivesse uma memória fraca ou uma amnésia seletiva. Porque assim, só o que me faz arder ficaria aceso. Porque sou assim mesmo. Se é pra queimar que seja queimadura de terceiro grau. Se é pra viver que fique gravado com todas as sensações no meu corpo.

E se é pra ser ausente que seja um ausente presente. Presente no desejo que tenho de ter sua boca mais uma vez em mim e sentir meu corpo tremer. Porque assim me sinto viva, e é quando estou viva que produzo melhor e me transformo em minha melhor poesia.

Seria tão mais fácil se você não fosse politicamente correto, se você não quisesse bancar o bom moço. Se você entendesse a frequência das minhas mudanças e fosse adaptável a todas elas. Seria tão mais fácil se seu corpo não se encaixasse no meu. Se você não me fizesse gozar tantas vezes.

Seria tão mais fácil se eu não brigasse contra as evidências, se eu deixasse você ir embora, e daqui pra frente, me transformasse em uma dessas mulherzinhas prendadas que cozinham para seu homem sem se insinuar como sobremesa.

Seria tão mais fácil se eu me resignasse e deixasse o tempo passar, até nos tornarmos dois estranhos íntimos, se eu obedecesse à velha máxima de que há algo melhor me esperando. Seria tão mais fácil e de tão fácil imediatamente se tornaria tão sem graça. Como tudo que é fácil.

 Paulinho Moska - A Seta e o Alvo - A Seta e o Alvo

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Da cumplicidade feminina....


Dizem que os homens são muito mais unidos do que nós, mulheres. E por mais que eu acredite que homens sejam bem mais simples, beirando o trivial, não acredito que, nós, do suposto sexo frágil não sejamos unidas.

Certa vez, me disseram que admiravam minha coragem perante a vida e a capacidade de sempre manter o sorriso nos lábios. Eis que depois de um período turbulento encontro a explicação para tal fato.

Talvez, a primeira explicação seja o fato de que chorar causa rugas e definitivamente não quero tê-las quando for uma balsaka. Mas sem dúvida, essa não é a mais importante. Que ser humano pode permanecer aos prantos quando uma amiga se despenca de casa, em pleno verão carioca, atravessa o túnel e te leva pra almoçar em um restaurante chiquérrimo, só pra te ver sorrindo?

E quando estou quase a beira de um ataque de nervos eis que me surge um telefonema dizendo: amiga, se você não parar de chorar vou aí te bater. Levanta mulher!
E que mulher resiste a um recado na caixa postal: Amiga, hoje é dia de festa, se arruma, vamos beber umas caipirinhas e dar umas risadas.

E aquela mensagem: Joga bola, jogadora! Vamos em frente! Sucedida de uma ligação: Garota, quero saber como você está e onde você está porque vou aí te ver agora!

Tem aquela solidariedade bonita de quem diz: amiga, serei seus braços e suas pernas. Tô aqui do seu lado. Ou ainda, a solidariedade virtual. Do papo diário, dos projetos conjuntos.

Mas não posso esquecer da solidariedade da mulher, que para toda mulher, é sempre a mais querida. Aquele colo que só ela tem. Minha mãe. Mulher guerreira, que sempre me deu a mão, que sempre fez o impossível pelo meu sorriso. Aquela que me arranca de casa para fazer compras no shopping. Que me faz cafuné pra eu dormir.

Então, caros leitores não me venham com esse papo que a classe feminina não é unida. Porque somos sim uma espécie de grande família, com laços nem sempre consanguíneos. Mas quem se importa quando há uma ligação tão mais forte que essa?

A cumplicidade feminina nasce nas ligações diárias, no sorriso, na mesa de bar, na evidência de pontos em comum. De histórias que se cruzam e que caminham juntas. Dos dramas compartilhados, daquela risada gostosa de situações que, um dia, acreditamos que nunca iriam passar.

Se há uma palavra para definir as mulheres que me cercam, creio eu, que seja AMIGA. Obrigada por vocês existirem e por serem meus olhos quando não consigo enxergar o evidente.

 Lenine - Todas elas juntas num so ser



Pessoas queridas, não poderia deixar de falar de um lugarzinho, onde sempre há cumplicidade feminina, o banheiro. Que mulher nunca emprestou um batom e deu um conselho de última hora nesse lugar meio refúgio. Aos que me perguntaram, o Sentidos continua. O blog, No Banheiro Feminino, é um projeto paralelo. Espero a visita de todos nesse banheiro badaladíssimo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Casa nova...


E como não sou de fazer morada na tristeza e qualquer prazer me diverte. Surge então uma casa nova. Construída a três mãos. Cada uma com seu jeitinho.
A todas às queridas almas que sempre vêm aguçar meus sentidos, hoje é dia de open house.
Abaixo o link do blog novo.

http://no-banheiro-feminino-blog.blogspot.com/

Sejam bem vindos!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Por um fio....


Por um fio de explodir. Por um fio de sair correndo. Por um fio de jogar tudo para o alto. Por um fio. Na corda bamba. Dizem as más línguas que quando algo desanda, o resto todo toma o mesmo destino. Como nunca fui de acreditar no senso comum me recuso a acreditar agora.

Embora haja grandes sinais de dias difíceis, de guerra, me recuso a acreditar que o barco possa ter tomado rumo oposto ao que remo. Nem as palavras me fazem companhia. Parece que minha inspiração foi embora. Deve estar por aí trancafiada em algum canto junto com aquela gargalhada gostosa que sempre me foi habitual.

É quando o grito não sai e corpo responde como pode. É quando o porto seguro vai embora e o norte aponta para o sul. Quando tudo que se diz é pouco. Quando as maiores certezas se transmutam em ponto de interrogação. Quando a neblina impede a visão de dias melhores.

Por favor, eu quero colo. Não fala nada, só me abraça porque não há o que ser dito.Não me pergunte porque. Porque eu sei bem os porquês mas não tenho a menor intenção de explicá-los.

Não, eu não quero ser super mulher nesse momento. Não quero e não posso. Está tudo do avesso. E assim a vida segue. As palavras faltam. Por favor, me diga o que fazer, me aponte uma saída sem que tenha que ser fuga.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Das dores....


Porque só uma via para qualquer dor ser boa. Quando ela é via de crescimento, de aprendizado. Quando ela traz lucidez, quando ela, que nunca é agradável, porque dói, traz consigo alguma consequência boa. Consequência essa, que a princípio não fica muito clara. Porque os efeitos colaterais são tantos. Cara inchada, dor de cabeça, dor de cotovelo. Cabeça girando.

Mas há de ter algo bom pra quem acredita que, se é seu melhor investimento. Há algo de positivo em chorar quando se sabe exatamente porque se chora. Porque há no choro algo que lava. Algo de desapego. Há o outro lado do fim. A possibilidade de um novo começo. De um caminho mais claro.

O irônico da dor é como ela muda quando a gente muda. Como a convivência com ela pode ser pacífica. Como se a resignação fosse cama para o corpo e alma cansados. É engraçado como mesmo quando nada sai como se quer, ainda assim, ironicamente, pode ser a melhor forma que tudo tinha que acontecer.

“It`s been a bad day...” E Ana era bem assim, doida varrida. Vivia dores doídas. Chorava de soluçar mas sabia dar a volta por cima como ninguém. Ana não gostava de pedaços que não coubessem em sua inteireza. De fato, fazia muito, Ana era feita de pedaços desconexos, como um quebra- cabeças que nunca tem fim.

Mas quando Ana achou o fio da meada começou a não se satisfazer mais com partes porque ela já era um todo e nada meio a interessava. Nem meio amor, nem meia raiva, nem meio afago, nem meia hora, nem meio dia.

Então, naquele dia, quando Ana viu Felipe sair pela sua porta Ana chorou. Não chorou meio. Chorou de encher rio, de soluçar, de olhos vermelhos. Mas Ana sabia agora ser inteira, até na tristeza.

E apesar de, porque na vida se vive apesar de. Ana sentia uma calma de quem fez a coisa certa. Agora ela estava pronta pra bater a porta que Felipe deixara entreaberta.

 Daniel Powder - Bad Day

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Das sextas...


Era sexta. Ela tinha as unhas pintadas de vermelho e sentia que algo estava prestes a acontecer. Depois de um longo período divida entre duas possibilidades agora enxergava as outras milhares que sempre estiveram bem ali.

Era sexta e ela sabia bem o que isso queria dizer. Sentia um que de euforia, de alívio, de vida. Seus olhos brilhavam e estava muito bem acompanhada de si mesma. Porque hoje ela sabia ser e era sua melhor companhia. Pisava firme. Subia a rua desfilando e até as cantadas a faziam rir. Devia estar exalando. Algo assim de descompromisso.

Dançava nua porque queria sentir que o vento lhe vestia o corpo e a alma. Ansiedade fora embora e agora ela gargalhava porque seu sorriso era lindo e capaz de iluminar qualquer negritude.

Hoje era o dia dela. Enfim aprendera a ser só. Só, somente o que queria ser e passear por aí sem o compromisso com hora ou com qualquer outra coisa que não fosse a si mesma.

Era sexta. Em sua bolsa só carregava o essencial: liberdade, sorriso e charme. Aquele charme que lhe era peculiar. Hoje ela queria estar só. E só ela entendia como isso a preenchia.

 roy orbison - pretty woman

domingo, 18 de janeiro de 2009

Ne me quitte pas....


Que tudo na vida tem um preço talvez seja o mais antigo de todos os clichês. Algo do tipo” is the price I have to pay.” Nenhuma mudança acontece sem que antes se mate alguma coisa, alguma coisa que nos remeta imediatamente a um estado de espírito anterior do qual se quer livrar, deixar para trás. Creio eu, que assim o seja. E em toda morte o luto há de ser vivido para que se siga em frente.

Dia desses me peguei em luto de mim mesma. Luto do que decidi deixar para trás. Mas logo depois me veio o sorriso de quem mata pra renascer. Porque o maior medo é o de não mudar, quando tudo indica que há caminhos bem mais interessantes a serem percorridos.

Porque sou desse jeito mesmo, saudosa, intensa e um pouco dramática. Dia desses, vendo a minissérie Maysa ouvi que o nome de sua doença era excesso. Talvez, algum amigo mais próximo já tenha dito isso de mim. Sem muitos meio termos e às vezes sem termos. Ou tudo, ou nada. Uma hora cansa.
Há de se descer da corda bamba e viver uma vida mais amena, com sonhos menos ambiciosos mas mais paupáveis. Há de ter uma casa no campo, um mar de calmaria. Uma convivência pacífica nas horas de vazio, sem que para isso, tenha que se enfiar qualquer coisa que seja em todos os buracos.

Porque há vazios que falam mais que mil palavras. Assim como há silêncios que gritam e merecem ser ouvidos. Chega uma hora em que há de se conviver consigo mesma e provar o gosto doce dos seus próprios anseios, de suas angústias. Tudo é posicionamento.

Como se colocar frente às questões que estão ali só pra mostrar que é hora do velho sair de cena, que criar requer paciência e tolerância. Transferência para o outro não me parece mais satisfatório. Creio eu, que seja mais interessante tomar as rédeas da vida.

De repente o insuportável vai ficando cada vez mais suportável e divertido. São tantas partes varridas para debaixo do tapete e hoje faço questão de juntá-las, todas. Uma a uma. Mesmo as que me fazem arregalar os olhos.

Em situações extremas só se enxerga o que se tem a ganhar quando tudo se perde. E como há tempos me perdi toda do meu tudo há chegada a hora de ganhar. De criar e resgatar. Pequenos prazeres que a parte de mim bem resolvida jamais se esqueceu.

Algo como champagne com morango, camisola de seda, som nas alturas, gargalhadas e um certo quê de narcismo que minha imagem refletida no espelho me causa. Meu corpo, morada do desejo mais profundo. Do anseio de mudar.

Minha ferramenta mais nua e crua, que ganha alma e canta contente minhas aflições como quem prevê tempos de grandes descobertas e de plenitude. Plenitude dos momentos comigo mesma. Plenitude de quem aceita que a vida não é plena, mas que tem muito a oferecer. De quem se apaixona por si mesma, mesmo com tantos e inúmeros defeitos e pontos de interrogações.

Do encontro mais bonito que só acontece quando se abre a alma e deixa a brisa carregar o que já é morto. E traz caneta colorida e porpurina para um novo contorno.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tudo novo de novo


Naquele dia as horas ficaram estanques, o corpo molhado e a respiração acelerada. Naquele dia era tudo novo de novo, porque assim era toda vez que aqueles dois corpos se encontravam. Naquele dia, era só aquele dia com cheiro de flor. Naquele dia, só existia aquela cama.

Naquele dia se fazia poesia sem palavras, poemas sem versos. Descobriam-se os mais perfeitos movimentos e a leveza da alma de quem vive só aquele dia. Naquele dia não existia ontem e sequer a promessa de um amanhã. Vivia-se a plenitude do único de tantos outros únicos. Era tudo novo de novo.

Chovia lá fora e ardia aqui dentro. Eram dois corpos em perfeita sinergia. Era vontade, era desejo. Era cumplicidade de duas pessoas que se atreveram a viver, era tudo novo de novo.

E aquele dia ficou marcado até que novos dias aconteçam. Aquele dia era meu, mas resolvi te dar de presente só pra te fazer de testemunha daquele dia que merece ser lembrado. Era meu e de repente quase seu e por fim tão nosso.

Aquele dia eu me vesti só pra te dar o prazer de arrancar a minha roupa. Naquele dia te dei um pouquinho de mim e você me deu horas de orgasmo, sorriso sincero e cansaço.

Aquele dia tão meu agora também é seu. E é tudo novo de novo.


 Moska - Tudo novo de novo

domingo, 4 de janeiro de 2009

De pique-esconde...


Era uma vez uma menina muito medrosa e que adorava brincar. Sua brincadeira preferida? Esconde-esconde. Escondia-se o tempo todo. Das dores, dos amores, da insegurança, da solidão, das incertezas, da inveja alheia.

O curioso é que essa garotinha sonhava grande. Sonhava em ter o mundo, em ser gente grande, em ser reconhecida, em ser bem amada, em brilhar. Sim, ela sempre gostou de porpurina e paetês. Lembro-me bem seu caminhar em cima de seus saltos agulhas, de seu rosto pintado de desejo.

A pequena garota de certo não nascera para viver a sombra de qualquer que fosse o poste, seu brilho contagiava a quem tinha a sorte de ser chamado de amigo por ela. Mas ali estava. Aquela garotinha que cismava em brincar de esconde- esconde.

Escondeu-se tanto que acabou se escondendo de si mesma. Acabou perdendo o contato com sua musa interior. Escondeu-se da dor mas perdeu a chance de viver uma linda história. Escondeu-se do risco mas acabou por não viver uma grande conquista. Escondeu-se de suas fraquezas e acabou se perdendo.

Um dia, essa garotinha ousou sair da sombra e parar de se esconder. Do fundo daquela caverna já havia se esquecido como a luz da vida é intensa. Capaz de deslumbrar e ao mesmo tempo cegar temporariamente aos que se atrevem a ver um pouco mais que sombras na parede.

Aos poucos, de atrevida que era ela, caminhava. Seus passos sempre para frente, jamais para trás. Caminhou, caminhou. Às vezes sentia-se só, até compreender que ela era sua melhor companhia.

Um dia encontrou uma pedra muito sábia a quem deu ouvidos por horas. A pedra lhe dissera que se ela queria brilhar não podia mais se esconder. Muito resistente, a menina ficou pensando em como nunca mais brincar de esconde-esconde se essa fora sua brincadeira preferida desde criancinha.

Aos poucos a menina tentou, sem nenhuma promessa de conseguir. Tropeçou uma, duas, centenas de vezes. Mas de repente lá estava ela. Não mais verde, agora sua cor era vermelho, assim como o tapete vermelho que a vida gentilmente lhe estendia.

Acabou o esconde- esconde e agora dizem que ela anda por aí divertindo gente e gozando a vida. Dizem que tempo passou e aquela garotinha deu espaço a uma linda mulher. Dizem que em dias de gotas no céu ela ouve música alta e sente a vida toda sua.