quarta-feira, 2 de março de 2011

Do que pulsa...

É que aquela era a nostalgia agridoce de quem se debruça sobre as palavras em uma tentativa de colocar em ordem o que vai no peito e escorre entre os dedos. Seria possível revisitar sensações quando nem mesmo se lembra das mais diversas e adversas situações que as causavam?

Seria aquilo tudo uma grande ironia para mostrar que no fundo o objeto do desejo se confundiu com o desejo mais íntimo de querer desejar? Poderia se reconhecer no meio daquele turbilhão misturado entre calmaria e marés? Poderia alguma hora parar de se indagar e apenas sentir?

Porque havia algo de gozo misturado naquilo tudo. Das coisas que se sentem com a alma e uma vez registradas tornam-se inesquecíveis e palpáveis demais. Daquela realidade que faz sentir viva, da altivez de todos os seus anseios que semeia em seu ventre bem como sua vaidade.

Porque toda mulher carrega consigo o desejo mais íntimo de ser desejada e desejosa. De ser rainha e plebéia. Era ele que a fazia sentir assim ou era ela que o usava com o pretexto de sentir aquilo tudo?

Era mesmo necessária uma explicação perdida entre todas as interrogações? Ou poderia apenas admitir que a vida inteira seria assim: mais perguntas que respostas? Uma vez dadas as segundas, imediatamente surgem novas primeiras.

Seria esse exatamente o código? A graça não está em abrir o cadeado, mas sim, em procurar no meio da vasta quantidade de chaves qual a única opção adequada? É como se pulsasse algo de querer, de sentir. E isso, somente isso bastasse.

Nunca se sentira mais mulher, mais diva, mais dádiva. Nunca fora tão fértil, como se todo aquele lixo, que antes lhe parecia lixo tivesse sido o adubo necessário para fixar suas raízes. Que de tão fixas lhe permitem alçar o vôo por mais antagônico que possa parecer.

Será que só se liberta quem descobre que por alguma raiz está preso?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Das urgências...

Sinto como se a vida cismasse em dançar um ritmo muito mais lento que o meu. É como se no vai da valsa o que eu quisesse mesmo era dançar um rock and roll. De certa forma, é como se eu corresse para algum lugar que ainda não sei onde.

Como se lá fora nevasse e aqui dentro queimasse. Anacronismo. Corte, construção. Força saída justamente da ou das fraquezas. Referências na ausência das mesmas. Um passo de cada vez e todos eles ao mesmo tempo. Um eterno paradoxo, como se assim tivesse que ser. Acho mesmo que é desse vendaval que vive e sobrevive minha vaidade.

De me encontrar onde me perco e de me perder onde jurava que já me conhecia. De onde nenhuma surpresa se fazia possível, do sorriso mando, do hálito das noites que terminam quando já é dia. Dos sorrisos sinceros que cruzam meu caminho. Da felicidade de ter e não ter alguém(s).

No fundo, creio que o que sempre buscara fosse me reconhecer na queda. Fosse ser mais maleável como borracha e menos dura. Mais água que escapa brilhantemente de seus obstáculos.

Um meio termo entre Polyana e Samanta. Um meio termo do que eu fui e do que imagino serei. Palpável. Vivo. Porque é de batalhas que se vive a vida. Algumas vencidas outras aprendidas. Às vezes me lembro de esquecer a tempo o que um dia fiz questão de lembrar. Outras horas me esqueço de tudo que aprendi só para ter que aprender de novo.

Feliz, urgente.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Das mãos

É que a sua ausência de escrita nada tinha a ver com falta de inspiração. Era apenas sentir o que era, que a deixava encantada com as milhões de possibilidades que ela mesma havia inventado. Não era falta de desejo, de paixão ou de tesão. Até mesmo porque ela não sabia viver sem suspirar.

Não é que a calmaria tivesse feito morada do dia para noite. Ela apenas havia entendido que mergulha mais fundo, apenas, quem está preparado para tal. Mergulha porque não teme o vazio, compreende que algumas ausências apenas existem sem porquê ou para que.

Só quem conhece seus limites e os respeita vive plena de si. Plena da certeza de que as não possibilidades, ainda assim, são possibilidades. Algumas vezes sentir é feito somente para isso, para ficar no plano do que não se toca.

Entendia agora, que não saber o que se encontra do outro lado do muro pode causar frio na barriga mas merece e deve ser vivido. É de ir fundo que se vivem os dias. De estar de uma forma sem que, para isso, exista alguma explicação plausível e que se encaixe em velhos padrões já estabelecidos.

Produzir não necessariamente significa retorno. Produz quem tem sede de procura, ainda que não se tenha vaga idéia do que vai se achar. Procura quem tem o gene da curiosidade, quem entende que mais do que as resposta o que se busca é o caminho. O processo de desconstruir para construir algo com traços novos e antigos.

Não existem fórmulas, existe tentativa e erro. Erros que podem ou não serem devastadores. Depende de como se posiciona perante a vida. Nada para ela é perda de tempo, tudo é aprendizado. Como se cada dia fosse um novo capítulo escrito a mil mãos de uma história que nunca pode se prever o fim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quase sem querer..

É como se finalmente eu tivesse achado o que não estava procurando e estivesse procurando o que jamais acharia. Como se estivesse num estado imutável e intransponível de espera. Mas espera de que? Das mil promessas que me fiz? Das mil promessas que desfiz? É como se tudo sufocasse a idéia de ser, de estar.

Porque tudo que habita em mim não é, apenas está. E amanhã pode ser que algo novo já esteja por aqui. Onde as emoções ganham asas e de asas querem voar, mas podadas nas mil possibilidades se esvaziam de liberdade.

Da sobra do tempo, que antes me fora escasso e que teima em não correr. Em uma sonolência profunda, daquilo que ainda não se vê. Mas se quer descobrir. Das palavras que não saem, pois não encontram seu lugar no mar de interrogações.

Das palavras que saem, não por inspiração, mas pela breve necessidade de se fazerem vivas. E de cores, de uma imensa vontade de existir e correr. Como se houvesse mil adjetivos, todos eles embaralhados e desconexos.

A vontade de ter tudo e a falta de fôlego que insistem em caminharem lado a lado. Como se houvesse uma capsula que uma vez ingerida daria conta de todo esse grande mistério.

Mistério das palavras que se encontram perdidas, no fundo daquela caixinha que guardo só minha. Chamada ilusão.