domingo, 23 de novembro de 2008

All been washed in black...


Das poucas certezas uma fica: dívidas devem ser pagas. Não importa quanto tempo sejam adiadas. Algumas dívidas tem que ser pagas para que se inicie um novo projeto, para que se vire a página, para que se inicie uma nova leitura ainda que seja releitura.

Porque reler não é tão somente ler de novo. Reler é ler os detalhes que a primeira leitura não pode exclamar. Reler não é tão pouco rever e visitar a mesma história. Reler pode ser lembrar de uma forma mais colorida alguma coisa.

Reler pode ser concluir que aquela história é triste demais para ser lida em dias amenos. Mas mais do que isso reler é sem dúvidas passear pelo conhecido mas de maneira desconhecida porque nunca se relê algo da mesma maneira.

Nunca somos nós da mesma maneira. Poderiam as histórias se repetirem, então? Ou seria um paradoxo repetir sem ser o mesmo?

Seriam os largos anos amigos ou inimigos? Borracha ou carimbo que marca e não se apaga? Seria o tempo amigo do esquecimento e inimigo da proximidade? E seria a proximidade inimiga da mudança?

Poderiam dois corpos que já ferveram um dia se tornarem desconhecidos? Seriam as lembranças tão vagas, incolores, inodoras e insípidas? Seria tão distante o que já fora tão próximo? Ou estaria para sempre fadado a ser um distante tão próximo.

Ainda que mudasse de cor, de forma, de tom, de voz, de luz, de paz, de amor aqueles olhos permaneceriam tão íntimos e particulares? Tão meus e teus e mais teus e meus do que nunca? Seria tudo um deja vu? Uma visita a um passado longínquo, um convite para uma releitura? Ou seria apenas uma nova leitura?

E de quantas questões seriam feitas as mil perguntas que escapam de meu umbigo sem qualquer compromisso com uma resposta sincera, se é que ela existe? Seria tudo tão diferente a ponto de não haver qualquer possibilidade de reconhecimento ou seria apenas uma forma de dizer que depois de tudo e tanto algo se manteve.

Manteve-se guardado no pote lá em cima da estante. Da minha estante em que guardo meus instantes todos coloridos ainda que alguns de preto.

Seria agora a chance de rir do choro, de gozar o gozo, de dizer adeus sem dor? Seria tempo de releitura ou nova leitura? Ou apenas a última página que faltava para completar o livro?



segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Só por ele...



Quando eu era pequena bem pequena ele me ensinava matemática. Lembro-me até hoje quando ele me explicava equações e dizia: - Minha filha não confunda bananas com laranjas. E aquelas tarde longas de números sempre acabavam em discussões porque ele tinha um gênio complicado e eu também.

Mas lembro que ele era meu herói. Todo mundo dizia: -Ela é filha do pai! E de fato eu era. Lembro que quando crescesse eu queria ser igual a ele. Porque ele sempre foi dessas pessoas inteligentes, cultas que tinham a certeza de suas verdades.
Talvez tenha sido por isso meu apego aos livros, aos estudos. Eu queria ser alguém, mas não qualquer alguém. Eu queria ser alguém como ele. Dona da razão sem que pra isso eu precisasse berrar.

Ele sempre foi ouvinte das minhas grandes causas, das minhas grandes dúvidas. Testemunha dos meus maiores amores, ouvinte das lágrimas de um projeto frustrado, o amigo que falava de igual para igual porque ele nunca subestimou minha capacidade de compreensão.

Foi ele que me deu o que ele mesmo nunca pode ter. Foi ele que chorou comigo. Foi ele que respeitou meu silêncio. Sempre foi ele. Meu herói.
Duro mesmo foi quando o herói virou humano. Quando virou menino. E hoje eu sou tão parecida com ele que não sei o quanto dele há em mim e o quanto de mim há nele. Porque há também algo dos filhos nos pais.

Fiquei tão parecida com ele que ficou difícil deixar de ser. E hoje até o que não gosto muito nele muitas vezes percebo em mim. Uma teimosia, uma intolerância.
Talvez tenha sido tarefa árdua separar o joio do trigo. Tudo nele era tão encantador que até o mau hábito de acender um cigarro e deixá-lo queimar no cinzeiro só para acender outro em seguida eu copiava.

Afinal, pra mim ele sempre foi um gênio. E gênios são quase sempre incompreendidos. Gênio daquelas tardes de música em que escutávamos Luiza de Jobim e ele me dizia que se fosse mulher e um cara tivesse feito aquela música pra ele não hesitaria em nem um momento de ir par cama com aquele cara.

Foi ele que comemorou cada vitória minha comigo. Foi ele quem daria a vida por mim. Foi ele meu exemplo, meu amigo, meu anjo. E foi por ele que chorei quando percebi suas fraquezas.

É por ele que eu tento ser um pouquinho melhor a cada dia. É por ele que não entendo porque as coisas tem que ser do jeito que são. É com ele que me preocupo.

Porque é ele meu primeiro e maior amor. Meu pai, que às vezes mas parece meu filho, mas que será sempre meu herói. Ainda que um herói cheio de não virtudes como todo ser humano.

Pai, eu te amo!



terça-feira, 11 de novembro de 2008

Things that I hate...


Odeio quando lembro nos mínimos detalhes do que não vivi. Do que não senti, do que esqueci de esquecer, do que não resisti.

Odeio quando a minha fragilidade fica escancarada, quando não consigo reagir como eu queria ou quando tudo que eu não queria era reagir e reajo feito louca, sem freio, sem razão.

Odeio a emoção porque ela esfrega na minha cara que ela é dona de si mesma e vai aparecer e arrombar a minha porta na hora em que bem entender.

Odeio quando meu ar de dona da verdade vai embora e me pego rindo sem mais nem porque. Ou com um porquê que não quero que apareça.

Odeio que nem criança mimada que perdeu o pirulito, que não ganhou o brinquedo, que é obrigada a comer quiabo.

Odeio quando meu olho brilha sem eu poder controlar. Odeio quando me vejo refletida nesses olhos que me dizem muita coisa sem nenhuma palavra sequer....

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Qualquer coisa que se sinta...

Corre, acelera, atropela, dorme. Pouco. Quase não dorme. Não come. Só mais um pouco. Muda um pouco aqui, um pouco acolá. Roda viva. Pronto! Acabou! Game over!
Projeto concluído, mas as olheiras, o cansaço, a dor nas costas ainda não foram concluídas.

Mas e agora? Acho que consigo entender nesse exato momento o que chamam de depressão pós- parto. E agora fica o que? Novos projetos?

Sensação esquisita. Lembrei-me da música da Cássia Eller que diz: “Socorro, não estou sentindo nada. Nem medo, nem calor, nem fogo”. Acho que deve ser por isso que enfrento tamanha dificuldade em colocar um fim nas minhas histórias, medo do vazio da conclusão.

Não que o vazio do dever cumprido não possa ser bom companheiro eu é que não sei lidar com ele mesmo. Faltam palavras, falta sentido, falta sei lá o que.Só sei que falta e faltar foi um verbo riscado do meu dicionário faz algum tempo.

Sempre sobra. Sobram amigos, sobra trabalho, sobra estudo, sobra amor, sobra tesão, sobra correria. Sempre over. Doses cavalares.

Sobra tanto porque não quero nunca falte. Mas que falte o que?

Por que? Pra que? Quando?

E se nada disso tiver resposta? Apatia de novo? Anestesia?

Engraçado como a ausência e o vazio às vezes podem dizer mais do que a correria das palavras.


 Cássia Eller - Socorro

sábado, 1 de novembro de 2008

Devolve...


Por favor,me devolve? Devolve a minha inspiração que você arrancou junto com meu vestido no início daquela noite em que éramos eu, você e a lua. Devolve meu pensamento que agora cisma em voltar pra aquelas horas em que nossos corpos formavam a mais bela escultura já vista.

Devolve meu fôlego que você roubou com aqueles beijos quentes de quem toma emprestada a alma de outra pessoa. Devolve a monotonia dos meus dias que antes de você existia. Devolve a minha calmaria.

Ou então esquece. Não me devolve. Não devolve nada.

Vem então me fazer companhia nesse dia de chuva, vem logo. Vem me dar um pedacinho do céu. Aquele pedacinho em que não existem anjos de testemunha das nossas horas, ora aceleradas, ora vagarosas.

Vem logo e desenha seu corpo no meu, vem porque seu cheiro já está codificado em mim. Vem pra minha cama que te espera quente, assim como eu anseio por todos os momentos de êxtase que eu sei que você vai me dar de presente, como se fossem bolhas de sabão.

Vem logo. Tenho pressa.