quarta-feira, 29 de abril de 2009

Oração da Diva


Que jamais falte beleza diante dos meus olhos;
Que jamais faltem amigos me cercando;
Que nunca eu me embriague do meu ego;
E que meu ego inflado não mascare minhas fraquezas;
Que haja sempre, pelo menos, alguém em sã consciência que me enxergue como eu sou;
Que eu me ache genial sem que para isso use de soberba;
Que eu saiba aceitar o não mesmo quando ele não é frequente em minha vida, e é isso que o torna mais difícil;
Que eu saiba lidar com a indiferença;
Que eu sofra mas sem descer do salto;
Que eu entenda que nem sempre encontrarei pétalas pelo caminho;
Que eu esteja sempre cercada das pessoas que realmente valem a pena;
Que eu saiba rir de mim mesma;
Que eu jamais endureça;
Que eu jamais deixe de pisar firme;
Que eu jamais abra mão do que acredito;
Que jamais me falte champagne e jaz;
Que eu nunca perca o brilho nos olhos ;
Que jamais me falte tesão;
Que eu tenha sempre orgasmos múltiplos;
Que eu nunca tenha rugas e jamais esteja acima do peso;
Que eu saiba escolher o lord que merece estar ao meu lado;
E que eu seja sempre consciente de que vale quanto pesa.

Amém

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Antiquada...


Confesso uma certa resistência em não ver poesia nas coisas, mas há horas em que se há de enxergar um pouco em prosa. Andei pensando no que já dizia o poeta “ o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Certas coisas me fazem pensar que é nesse estado de anestesia em que vivemos hoje.

Se esse tempo merecesse classificação, o classificaria como a “era do tudo pode”. Pode ser desleal, pode dar no primeiro encontro, pode esquecer uma grande amizade quando seus interesses falam mais alto, pode magoar terceiros desde que nunca, jamais em tempo algum se deixe de olhar somente para seu umbigo. Pode também ver criança na rua e achar normal, pode ver político corrupto e não reagir.

Não, não estou tentando aqui defender a moral e os bons costumes. Sempre fui dessas divas meio atiradinhas, daquelas que chocam familiares mais conservadores com suas opiniões. Mas tudo tem limite. Só 0 sobre 0 é infinito.Acho que essa é a única excessão que conheço para o limite.

Fico pensando em qual sentido dar a certas coisas que, infelizmente, hoje em dia me parecem antiquadas. É antiquado amar um só, o bom mesmo é amar vários na superficialidade e não amar ninguém. Ok, se isso é uma fase da vida da geração que já sabe namorar e é de tudo mundo e todo mundo quer bem, que assim seja. Mas cada dia, os laços me parecem mais frágeis.

Cresci ouvindo meus pais me ensinarem o valor da amizade, o valor do respeito pelos mais velhos e também pelos mais novos. Aquela velha máxima, que também já deve ter caído em desuso,não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você.

Acho que do alto da minha vida moderninha, do meu jeito descolado, da liberdade que canta em meu peito fiquei antiquada. Porque não consigo achar normal deslealdade, falta de amizade, falta de sinceridade, atrocidades.

É pai virando filho, filho virando pai aos quinze anos. É uma falta de caretice inacreditavelmente careta. Inadequada, inapropriada. O legal mesmo é se permitir no carnaval. Afinal, no carnaval tudo pode. Não compreendo muito bem esse rito, porque pra mim tudo pode, todo dia.

Mas confesso que me peguei sendo antiquada, anacrônica, careta e velha como dizem as más línguas. Só porque cometi o crime de ter valores e princípios. Se a ignorância é companheira da felicidade como reberveram por aí, opto por não ser feliz. Pelo menos não a felicidade do senso comum. Se fazer o bem sem olhar a quem e viver sim, como se cada dia fosse o último mas, sem que para isso, tenha que passar por cima de ninguém é antiquado. Sou ré confessa.

Confesso, sou antiquada. E por mais estranho que seja me orgulho disso.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Não


Não me diga o que fazer, não porque me soe como autoritarismo, mas porque sei exatamente onde devo pisar. Não me diga o que não posso e o que não devo quando sei exatamente das minhas desvontades. Não me diga onde não ir quando sei exatamente onde quero chegar.

Não me diga que não posso o que pulsa em mim, porque ainda assim eu vou. E vou com a força de mulher que pare. Porque quem pare joga no mundo um pedaço de si e há de se aprender a deixar ir. Não me diga não quando tudo que quero é um sonoro sim. Acredite, se eu quero, eu posso.

Não me diga pra ser mais uma na multidão, para não brilhar, para não fazer pose, para esquecer todo o meu eu que canta liberdade. Não me amarre em pensamentos que não são meus. Não me prenda em suas amarras e não me faça acreditar que são minhas as sua dúvidas e seu medo de viver inteiro.

Não me faça acreditar que não valeu quando cada segundo que vivo tem a intensidade do início e fim em si mesmo. Não me faça borrar a maquiagem com lágrimas que deviam escorrer de sua íris enquanto me vê indo embora. Não me enlouqueça se não pode se soltar de suas tragédias pessoais e embarcar comigo.

Não me negue o direito ao cio quando me encontro quente a ponto de entrar em ebulição. Tampouco, enumere minhas qualidades porque sei exatamente o que me sobra e o que me falta. Não queira entrar em meus lençóis se não pode me dar a madrugada.

Não acelere se não está preparado para avançar meus sinais vermelhos. Não se faça presente se não for para me surpreender. Não me diga o que fazer e não me faça acreditar que a interrogação sou eu. Não me veja em reflexo.

Então, que se faça um trato. Nada de recato, de pudores, de falso moralismo. Você dita as regras, eu burlo todas elas. A gente se invade e se separa. Você afirma, então, sua sensatez e eu meu atestado de loucura. Porque se não for insano de nada adianta ter vivido.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Vilarejo...


De tempos em tempos sinto algo quente em meu ventre. Como se fosse criança querendo ganhar vida. Como se fosse o gozo do meu amado. Algo que vem como se quisesse me presentear e me inunda de uma sensação de plenitude.

Como se encontrasse flores na chegada e pétalas na saída. Porque é assim que me acostumei a ser recebida. Com rosas que exalam o mais cítrico dos perfumes, com a candura de um girassol.

Porque quem tem a alma em festa é convidada todo dia para se deixar levar ao vai da valsa. E assim, a dança- vida inunda minhas tardes coloridas. Das mil cores que pinto minha face para que ao cair da noite feito diva eu desfile por aí.

Da simplicidade de um vilarejo que abriga muitas histórias de uma gente simples mas que carrega consigo sabedoria de criança que ainda não foi contaminada pelos polimentos da boa educação. Olhar doce de um lugar em que as ruas de pedras não combinam com meu habitual salto doze.

De uma imensa e incontida felicidade que só se alcança quando se deixa as amarras de lado e se abre para dias com gosto de chocolate. Do chocolate quente ao fim da noite, do contato com o silêncio do fundo do mar. Do presente de um sorriso sincero.

E é assim que de tempos em tempos nada precisa ser dito. Porque tudo está em seu devido lugar, na mais perfeita harmonia. Como se o silêncio dissesse amém para comunhão de corpo e sentidos.

E ali, era só fechar os olhos e sentir.

Queridos, é tempo de renovação depois de dias maravilhosos em um paraíso cercado por mar e gente bonita e boa.

 Marisa Monte - Vilarejo



Queridos, também estou aqui: NO BANHEIRO FEMININO!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Questão de ponto e vírgula...


Faltava só um ponto e vírgula para descobrir que tudo é uma questão de permitir-se. Da permissão de sentir nascem as aves mais raras de pouso tranquilo. Daquelas que mais parecem bailar pelos céus como se provocassem o sol.

Bastava descobrir que se carrega todo o necessário dentro desse músculo que pulsa, ora de dor, ora de contento. Porque só vive quem sente. E para sentir é necessário que se permita. Permita deixar a armadura de lado e experimentar o mel e o fel de cada minuto em que se descobre.

Porque o ser humano é assim, vive se re-descobrindo porque é constante mutação. Assim, fui feita da matéria que muda e enquanto estive na contramão das mudanças vesti o verbo racionalizar como escudo. Não que a razão seja inimiga, desde que não aprisione e petrifique.

Mas, quando se tem o amor de si mesma exposto como colar de pérola no colo da moça mais faceira, tem-se a razão da vida. Porque quem ama dança e quem dança sente. Sente a liberdade da morada-corpo. Por essa razão, tenho me permitido dançar sempre que preciso lembrar como é sentir.

E sempre que sinto inicio um processo de auto-entrega, de permissão. Permitir a não ser só dona decidida que sabe onde quer chegar. Permito-me, então, a me apavorar com um futuro próximo, das dúvidas da profissão. Permito-me a chorar feito louca pelo estacionamento só porque naquele dia achei que não tinha a menor vocação para o meu trabalho, pela discussão.

Permito-me não ser apenas pilastra. Dou-me o direito da interrogação. Tudo bem, algo pode ser bom e mau ao mesmo tempo, assim como as minhas ambiguidades. Posso querer não querer, ou posso, até mesmo, me agarrar no que acho que quero só para não me dar ao trabalho de entender o porquê.

Posso caminhar sozinha, posso dar risada, posso fazer pose. Posso caminhar no tapete vermelho ou simplesmente comer em boa companhia no bistrô de uma livraria. Posso ler
bons livros e posso e acredito que a ventania que habita em mim corre solta feito criança.

E foi quando dei a pontuação correta que descobri que posso, ainda, ter alma de criança.

 Soup Dragons - I'm Free


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