segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tão pouco...


De tempos em tempos borbulham na boca do meu estômago palavras que estiveram ali uma vida e meia mas, que por algum motivo especial, tiveram seu tempo de jorrar. É como se elas estivessem a espera do tempo que as coubesse. Como um feto aguarda nove meses. Caso contrário, corre o risco de vir inacabado e frágil de incubadora.

Minhas palavras só brotam quando estão prontas, antes de solarem no forno que me habita, mas, não antes de seu tempo de nascer. Na verdade, acredito mesmo, que elas surjam quando perco formato. Quase como um veículo de redenção de uma parte de mim que não se acha e nem se perde. Estanca.

Só não entendo exatamente qual a parte de mim que fica agora. Sim, porque tudo fica, e não está permanente. Sou fluida como riacho e tenho dias de ressaca violenta de mar. Daqueles que destrõem aterros, que devastam qualquer existência. Em quanto amor de mim cabe tudo isso?

Em quantas interrogações cabem as dúvidas do meu ego? Em quantos pontos finais cabem minhas dívidas emocionais? Em quanto tempo se resolve o que se leva uma vida para entender? Em quantos entraves me divido para me justificar? Em quanto de risco há razão? Em quanto de tesão me cabe o gozo?

Porque não estou perdida, sem rumo. Apenas com uma imensa preguiça de percorrer o caminho necessário. Não que tomar decisões me pareça um bicho de sete cabeças mas arcar com seu peso é o que, não me trava, mas asfixia.

De acreditar no ser humano e me jogar na vida, porque, na razão pura se encontra o ardor das maiores paixões. Das paixões que superam a mania incontrolável, incontestável de racionalizar para que tudo caiba na palma da mão. Mas o que cabe na palma da mão, em geral, é muito pequeno pra quem vive de transbordar. Porque talvez a dor tenha uma relação dialética com o poeta. Nutre mas destrói.

Assim como meus amores inventados para provar de uma vã ansiedade de mim mesma. Todos eles com um único fim. Esmagados quando outro mais interessante é encontrado sem querer, em meio ao caminho.

Quase sempre funciona assim. E de tempos em tempos jorro palavras. Como se muito fosse muito pouco. E bastante não o suficiente.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Agora tanto faz...


Eu poderia lançar mão da minha racionalidade barata e dizer que sou um mulherão para você, que essa história é só para me distrair, que não passa de um passatempo, algo quase similar a uma palavra cruzada.

Ou ,eu ainda poderia alegar aquelas questões químicas que ocorrem quando um homem e uma mulher se cruzam pelos caminhos da vida e de repente. São um só. Mera questão física. Nada que justifique um suspiro ou um sorriso a toa.

Ou quem sabe eu possa fingir que as mensagens que trocamos não passam de uma certa ocupação quando falta o que fazer nas madrugadas.

Melhor, vou arquitetar toda uma estratégia para me convencer que somos diferentes, que você fala japonês e eu francês, que na prática os opostos se repelem. Que uma mulher inteligente sabe até onde deve ir.

E quem sabe eu me convença de que meu corpo não explode quando encontra o seu, que não passamos de dois estranhos em busca de uma aventura qualquer. Que isso tudo não passa de uma grande piada.

Vou negar que o destino nos colocou no mesmo lugar porque assim tinha que ser. Nada de destino, apenas uma mera coincidência. Dessas sem a menor importância, que acontecem todos os dias.

A grande questão é que toda a minha pose decidida não tem a menor importância. Que destino ou coincidência não fazem o menor sentido. Que racionalizar não cabe. E que de uma forma ou de outra vivemos o que temos que viver. Agora tanto faz. Você e eu ocupando um mesmo lugar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Do que é pleno...


Porque se padeço de algum mal, seu nome é plenitude. Porque sou plena em minhas vontades, sou plena de desejos que são plenos na vontade de serem saciados. Nada me habita que não seja pleno. Pleno de energia e querer. Nada pode vir em pedaços. Das marés que jorram de mim, todas elas plenas.

Não me peça para não ser plena. Tampouco na chegada e muito menos na saída. Não sei ir embora sem causar um vendaval, sem que minha despedida seja holywoodiana. Não sei pisar em ovos e ser doce sem qualquer tipo de peçonha.

Se algo me marca, marca como ferro quente, não sofro de amnésia, a menos que seja do tipo seletiva. Costumo viver meus dramas como novela mexicana e tendo a encerrá-los como Merlyn Monroe. Derramo lágrimas de champagne e mergulho facilmente em suas borbulhas que em questão de segundos me carregam de volta ao meu devido lugar.

Não suporto aquelas frágeis criaturas que vivem na janela a espera. A espera do amado que nunca chega, a espera do momento certo, a espera da vida, de algo arrebatedor. Não, definitivamente não suporto as mal comidas, as pudicas.

Se amo, amo pleno. Se não gosto, não gosto na mesma proporção. Não finjo gozo e não termino antes que alcance o pleno. Não disfarço o que meu corpo clama, não despejo palavras sussurradas e tampouco desperdiço adjetivos.

Se vivo, vivo plena. Não sei viver com o dinheiro contado, sem roupas novas no armário, sem um sonho que impulsione, sem um desafio que se vença. Não saio de casa sem um bom corretivo e sem meu salto alto.

Se caio, caio plena. Plena de graça e anseio por levantar. Porque quem não cai, não aprende a se reerguer e uma vida em linha reta, me parece, no mínimo, insossa. E quem não ri de suas quedas, endurece, cria casca.

Se eu quero, ah eu quero. Porque não sei querer só um pouquinho, e não me sacio com pouco. Quero muito, muitos. Tenho sede dos quereres e se não há nenhum em mente, crio. Invento. Por que se sou eu quem faço minha história, a faço como bem entender, certo?

Então no fantástico mundo de L.A. sou minha diva, bem criada, bem amada e bem comida.

 Hooverphonic - Mad about you