terça-feira, 29 de abril de 2008

C'est La Vie


Poderia eu viver com o vazio da minha ausência de questionamentos? Poderia eu viver uma vidinha mais ou menos? Poderia eu dormir o sono dos justos? Poderia eu não querer ganhar o mundo?
Corre daqui, corre de lá. Não vai dar tempo! Não tenho tempo! Escreve, escreve, escreve, lê, lê mais um pouco e se afunda. Se afunda nos livros, nas interrogações, nas desconstruções.
Descontrução. Segundo o filófo francês, Jacques Derrida, só podemos entender o todo se o decompusermos em partes, se descontruirmos a totalidade afim de enxergar a minúcia das partes. Mas é aí que a coisa complica. Minúcias sempre trazem consigo aquelas poeiras que empurramos para debaixo do tapete.
Um tapete persa que esconde as perguntas que não têm resposta. Respostas que não necessariamente esclarecem ou se esclaracem não resolvem. A verdade é que algumas questões pedem, clamam por resignação. Algumas perguntas por mais que sejam respondidas não calam o vazio que trazem consigo.
Aceitar não é sinônimo de se acomodar. O fato é que viver dando murro em ponta de faca nada mais traz do que uma ferida constantemente aberta. Parece-me mais razoável fazer um curativo e esperar que essa dor latente causada pelo corte da faca afiada cesse com a cicatrização.
Cicatrizes existem não a toa. Elas estão ali, marcadas em nós para sempre que necessário possamos olhá-las e lembrarmos que aquele caminho não serve. Fazer da mesma maneira não nos levará a resultados diferentes.
Escolher novas trilhas, contar uma nova história é sinal de sapiência.
Um bom yôgin conhece a décima norma ética: Íshwara Pranidhána, a auto- entrega.
“O yôgin deve estar sempre interiormente seguro e confiante em que a vida segue o seu curso, obedecendo a leis naturais e que todo esforço para a auto-superação deve ser conquistado sem ansiedade.
Durante o empenho da vontade e da dedicação a uma empreitada, a tensão da expectativa deve ser neutralizada pela prática do íshwara pranidhána .
Quando a consciência está tranqüila por ter tentado tudo e ainda assim não se haver conseguido o resultado ideal; quando a pessoa está literalmente impossibilitada de obter melhores conseqüências, esse é o momento de entregar o fruto das suas ações a uma vontade maior que a sua, cujos desígnios muitas vezes são incompreensíveis.
Preceito moderador:
A observância de íshwara pranidhána não deve induzir ao fatalismo nem à displicência.” (Tratado de Yôga, De Rose)
Trata-se da certeza de que se fez o melhor que se pôde, ainda que o melhor não tenha sido como esperávamos.

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