
Porque só uma via para qualquer dor ser boa. Quando ela é via de crescimento, de aprendizado. Quando ela traz lucidez, quando ela, que nunca é agradável, porque dói, traz consigo alguma consequência boa. Consequência essa, que a princípio não fica muito clara. Porque os efeitos colaterais são tantos. Cara inchada, dor de cabeça, dor de cotovelo. Cabeça girando.
Mas há de ter algo bom pra quem acredita que, se é seu melhor investimento. Há algo de positivo em chorar quando se sabe exatamente porque se chora. Porque há no choro algo que lava. Algo de desapego. Há o outro lado do fim. A possibilidade de um novo começo. De um caminho mais claro.
O irônico da dor é como ela muda quando a gente muda. Como a convivência com ela pode ser pacífica. Como se a resignação fosse cama para o corpo e alma cansados. É engraçado como mesmo quando nada sai como se quer, ainda assim, ironicamente, pode ser a melhor forma que tudo tinha que acontecer.
“It`s been a bad day...” E Ana era bem assim, doida varrida. Vivia dores doídas. Chorava de soluçar mas sabia dar a volta por cima como ninguém. Ana não gostava de pedaços que não coubessem em sua inteireza. De fato, fazia muito, Ana era feita de pedaços desconexos, como um quebra- cabeças que nunca tem fim.
Mas quando Ana achou o fio da meada começou a não se satisfazer mais com partes porque ela já era um todo e nada meio a interessava. Nem meio amor, nem meia raiva, nem meio afago, nem meia hora, nem meio dia.
Então, naquele dia, quando Ana viu Felipe sair pela sua porta Ana chorou. Não chorou meio. Chorou de encher rio, de soluçar, de olhos vermelhos. Mas Ana sabia agora ser inteira, até na tristeza.
E apesar de, porque na vida se vive apesar de. Ana sentia uma calma de quem fez a coisa certa. Agora ela estava pronta pra bater a porta que Felipe deixara entreaberta.
Daniel Powder - Bad Day