segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Só por ele...



Quando eu era pequena bem pequena ele me ensinava matemática. Lembro-me até hoje quando ele me explicava equações e dizia: - Minha filha não confunda bananas com laranjas. E aquelas tarde longas de números sempre acabavam em discussões porque ele tinha um gênio complicado e eu também.

Mas lembro que ele era meu herói. Todo mundo dizia: -Ela é filha do pai! E de fato eu era. Lembro que quando crescesse eu queria ser igual a ele. Porque ele sempre foi dessas pessoas inteligentes, cultas que tinham a certeza de suas verdades.
Talvez tenha sido por isso meu apego aos livros, aos estudos. Eu queria ser alguém, mas não qualquer alguém. Eu queria ser alguém como ele. Dona da razão sem que pra isso eu precisasse berrar.

Ele sempre foi ouvinte das minhas grandes causas, das minhas grandes dúvidas. Testemunha dos meus maiores amores, ouvinte das lágrimas de um projeto frustrado, o amigo que falava de igual para igual porque ele nunca subestimou minha capacidade de compreensão.

Foi ele que me deu o que ele mesmo nunca pode ter. Foi ele que chorou comigo. Foi ele que respeitou meu silêncio. Sempre foi ele. Meu herói.
Duro mesmo foi quando o herói virou humano. Quando virou menino. E hoje eu sou tão parecida com ele que não sei o quanto dele há em mim e o quanto de mim há nele. Porque há também algo dos filhos nos pais.

Fiquei tão parecida com ele que ficou difícil deixar de ser. E hoje até o que não gosto muito nele muitas vezes percebo em mim. Uma teimosia, uma intolerância.
Talvez tenha sido tarefa árdua separar o joio do trigo. Tudo nele era tão encantador que até o mau hábito de acender um cigarro e deixá-lo queimar no cinzeiro só para acender outro em seguida eu copiava.

Afinal, pra mim ele sempre foi um gênio. E gênios são quase sempre incompreendidos. Gênio daquelas tardes de música em que escutávamos Luiza de Jobim e ele me dizia que se fosse mulher e um cara tivesse feito aquela música pra ele não hesitaria em nem um momento de ir par cama com aquele cara.

Foi ele que comemorou cada vitória minha comigo. Foi ele quem daria a vida por mim. Foi ele meu exemplo, meu amigo, meu anjo. E foi por ele que chorei quando percebi suas fraquezas.

É por ele que eu tento ser um pouquinho melhor a cada dia. É por ele que não entendo porque as coisas tem que ser do jeito que são. É com ele que me preocupo.

Porque é ele meu primeiro e maior amor. Meu pai, que às vezes mas parece meu filho, mas que será sempre meu herói. Ainda que um herói cheio de não virtudes como todo ser humano.

Pai, eu te amo!



11 comentários:

Mariano disse...

Por coisas como este texto que ser eu for pai quer ter uma filha!

E tmb porque minha mãe ia amar...
HEHEHEHE!

Camila disse...

Que bela homenagem ao seu pai!
Meu papis é meu heroi... ele me ensinou a ser honesta, coisa que não tem preço nos dias de hoje!
Beijo

Leonardo disse...

Linda homenagem, espero que meus filhos, um dia possam falar assim de mim...

Beijos

Maldito disse...

Poxa,...só agoro tenho tido convivencia com meu pai e nos dois vemos como fe falta!
Parabens pelas palavras!

Inté!

Jana disse...

eu chorei, pq sinto imensa falta do meu

beijo

osátiro disse...

Fantástico.
Sem utilizar as palavras de circunstância (bonitas, sem dúvida), eis um texto de um muito sentido amor filial!
Bjs

*Lusinha* disse...

Luciana, posso dizer que tenho o mesmo sentimento, a mesma veneração, a mesma referência para com o meu pai. Esse texto poderia ter sido escrito por mim, com todas as exatas palavras que nele constam.
Só fala pro seu pai que a Luisa aqui não iria para a cama com o Jobim e que, mesmo que quisesse, não teria mais a oportunidade hoje em dia, não é mesmo?
Bjitos!

Ela disse...

Aqui você s e superou.

Amei o texto, tenho identificação profunda e parecida com o meu pai.
PARABÈNS - de pé.

Fred Matos disse...

Ótimo texto, Luciana.
Parabéns!
Beijos

. fina flor . disse...

ai, que lindo :o).... ele leu?

beijos, bela

MM.

Paula Barros disse...

Um relato emocionante. Repleto de emoções, declarações, entendimentos e busca do ser.

Somos formados por pedaços de outros, entre eles os pais, alguns nos deixam mais pedaços no quebra-cabeça que somos nós.

Acredito que tendo consciência do que você não admirava muito e que repete, pode sim ficar atenta e melhorar.

abraços, ficou extremamente lindo e emocionante.