
Das poucas certezas uma fica: dívidas devem ser pagas. Não importa quanto tempo sejam adiadas. Algumas dívidas tem que ser pagas para que se inicie um novo projeto, para que se vire a página, para que se inicie uma nova leitura ainda que seja releitura.
Porque reler não é tão somente ler de novo. Reler é ler os detalhes que a primeira leitura não pode exclamar. Reler não é tão pouco rever e visitar a mesma história. Reler pode ser lembrar de uma forma mais colorida alguma coisa.
Reler pode ser concluir que aquela história é triste demais para ser lida em dias amenos. Mas mais do que isso reler é sem dúvidas passear pelo conhecido mas de maneira desconhecida porque nunca se relê algo da mesma maneira.
Nunca somos nós da mesma maneira. Poderiam as histórias se repetirem, então? Ou seria um paradoxo repetir sem ser o mesmo?
Seriam os largos anos amigos ou inimigos? Borracha ou carimbo que marca e não se apaga? Seria o tempo amigo do esquecimento e inimigo da proximidade? E seria a proximidade inimiga da mudança?
Poderiam dois corpos que já ferveram um dia se tornarem desconhecidos? Seriam as lembranças tão vagas, incolores, inodoras e insípidas? Seria tão distante o que já fora tão próximo? Ou estaria para sempre fadado a ser um distante tão próximo.
Ainda que mudasse de cor, de forma, de tom, de voz, de luz, de paz, de amor aqueles olhos permaneceriam tão íntimos e particulares? Tão meus e teus e mais teus e meus do que nunca? Seria tudo um deja vu? Uma visita a um passado longínquo, um convite para uma releitura? Ou seria apenas uma nova leitura?
E de quantas questões seriam feitas as mil perguntas que escapam de meu umbigo sem qualquer compromisso com uma resposta sincera, se é que ela existe? Seria tudo tão diferente a ponto de não haver qualquer possibilidade de reconhecimento ou seria apenas uma forma de dizer que depois de tudo e tanto algo se manteve.
Manteve-se guardado no pote lá em cima da estante. Da minha estante em que guardo meus instantes todos coloridos ainda que alguns de preto.
Seria agora a chance de rir do choro, de gozar o gozo, de dizer adeus sem dor? Seria tempo de releitura ou nova leitura? Ou apenas a última página que faltava para completar o livro?