
Estava eu em meio aos meus devaneios femininos conversando com uma amiga a respeito da minha monografia. Conversávamos sobre a hipocrisia do ser humano que finge viver em um mundo perfeito e mascara seus pré-conceitos atrás de um discurso moralista que não convenceria nem uma criança de cinco anos.
Conversávamos sobre a atuação das mulheres no mercado de trabalho e como os homens lidavam com suas supostas chefes e como algumas piadinhas do tipo “mulher no volante perigo constante” passam desapercebidas e até nos parecem naturais nessa sociedade inegavelmente machista em que vivemos.
Trocávamos figurinha do que acreditávamos ser o perfil da nova mulher, a mulher do século XXI. Cheguei a lembrar das palavras que minha querida mãezinha me ensinara desde o berço. – Minha filha seu primeiro casamento deve ser com seu emprego. Se for para ficar ao lado de um homem que seja por amor e não por falta de opção.
Estávamos ali, duas mulheres modernas quando um ser humano (se é que esse indivíduo reside no planeta Terra) nos interrompe. Abaixo pequenos fragmentos das elocubrações desse cidadão:
- E aí gatas, o que vocês tanto fofocam?
Confesso que fiquei muito tentada a virar as costas e me retirar do recinto. Que espécie de ser humano chega sem ser convidado a uma conversa, interrompendo o assunto com a interjeição gatas? Como tenho me esforçado em praticar a paciência respondi ao meu nobre colega:
- Sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Eis que recebo a seguinte resposta:
- E uma mulher como você precisa trabalhar?
Fiquei pensando em que grupo de mulheres aquele ser me encaixara. Por tolice resolvi indagar:
- Que tipo de mulher?
- Ah, você sabe. Maior gata (parece que o camarada acabou de incorporar o vocábulo gata em seu “vasto” conhecimento da língua portuguesa). Até parece que você não arrumava qualquer um que te bancasse.
- Querido colega, quem disse que eu quero ter ao meu lado “qualquer um”? E outra coisa que tipo de ser extraterrestre você é para achar que eu quero que alguém me banque?
- Ah, fala sério você é maior patricinha. Vem sempre arrumadinha para faculdade. Não to querendo te ofender não. Tô fazendo um elogio, você é um mulherão.
De fato devo ser um mulherão perto de uma criança. Mas realmente fiquei em dúvida se aquele sujeito era uma criança ou um acéfalo. Como sou uma lady resolvi terminar a conversa por ali mesmo antes que a amiga com quem conversava antes de sermos interrompidas tivesse motivos para ficar sem graça.
- Querido, realmente esse tipo de assunto não deve ser conversado com qualquer um, mas bom saber sua opinião. Assim confirmo minha teoria de que não se fazem mais homens como antigamente.
Virei as costas e resolvi anotar no meu bloquinho imaginário, onde anoto coisas que não devo jamais esquecer:
1- Não fazem mais homens como antigamente. Lords são uma espécie em extinsão;
2- O ser humano tem uma forma muito peculiar (para não dizer absurda) de eleogiar uma pessoa;
3- É preferível ser antipática a agredir meus ouvidos escutando tamanha asneira.