quarta-feira, 9 de julho de 2008

Das coisas simples da vida


Em dias de megalomania todos nós acabamos por valorizar o mais. O mais bonito, o mais valioso, o mais complexo, o mais inteligente, o mais e mais. Creio que essa super valorização se deva a pequenez do ser humano.
Não estou defendendo aqui um amor e uma cabana ou que sejamos todos hippies (não que tenha nada contra eles). O que quero defender sim é a simplicidade das coisas que realmente são simples e ponto. Se algo não deu certo não foi o universo que conspirou contra você ou São Pedro que mandou aquela chuva que te atrasou no trânsito bem na hora da sua reunião.
E também o carinha que não te quis não sofre de nenhum distúrbio mental pelo simples fato de não querer dividir um espaço da vida dele com você.
O mais complicado de lidar com as pequenas coisas talvez seja, por nesse exato momento, ter que lidar consigo mesmo e nem sempre essa conversa se dá de forma amistosa. Nem sempre, ou melhor, quase nunca é desejável perceber que se é pequeno.
Que não se confundam aqui ser pequeno com alguma espécie de impotência ou de insignificância.
Nietzsche dizia que para dar a luz a uma estrela brilhante seria necessário ter o caos dentro de si. Concordo que fases de caos precedem grandes mudanças, o que é saudável e estritamente necessário. O que não concordo é que qualquer ser humano possa viver só na mudança. Há a necessidade de viver uma etapa e depois sim, virar a página. Não consigo ver sentido em ler partes soltas de um livro sem uma sequência.
Assim também creio que seja a vida. Etapas devem ser vivenciadas e não atropeladas. Urgência sem dúvida é uma palavra que cabe em dias em que tudo é perecível. Onde o desejo se confunde com amor.
Bauman em seu livro “Amores Líquidos” afirma que o desejo seria a vontade de consumir, absorver, devorar. O nascimento do desejo seria proveniente pura e simplesmente da constatação da alteridade. Já o amor seria a vontade de cuidar e preservar o objeto amado.
Talvez seja esse o motivo que um não exista sem a presença do outro. Custo e recuso a acreditar em binarismos. Creio que não se possa dividir a razão e a paixão, porque uma se opõe a outra. A razão surge da necessidade do freio da paixão. E a paixão surge quando da fuga da mesmice da razão.
Volto aqui à questão das coisa simples, tratando agora do seu oposto, a complexidade. Valoriza-se o complexo, o denso porque foi incutido no senso comum que tudo que é mais é melhor. Sempre me vem a cabeça que até alguns remédios em doses maiores podem se tornar verdadeiros venenos.
Em dias de grandeza, por ironia da vida descobri um contentamento no simples, no estar bem sem aparente motivo, só porque assim decidi que seria. O complicado mesmo foi descobrir que uma simples atitude interior pode ditar como será meu dia e minha vida.
A s grandes virtudes e feitos deixo para os deuses e deusas criados na imaginação humana, porque é lá e somente lá que eles habitam. No plano real, na hora do vamos ver o que conta mesmo é simplicidade de ação.
E como diz Lenine, enquanto o tempo acelera e pede pressa eu me recuso faço hora e vou na falsa. Porque acredito que viver dançando seja muita mais agradável do que viver lutando.

3 comentários:

Ashley disse...

Concordo!
Amo as cosias simples da vida;
Amo sentir cheiro de terra molhada quando chove, ouvir barulho de papel rasgando, pisar em folhas secas, jogar pedrinhas na água e ouvi o barulho, sentir cheiro de gasolina, estralar meus dedos, escrever o que sinto pra ninguém....São coisas simples que me fazem feliz, algumas são esquisitas, mas é isso aí!
Manias de Amélie Poulain!
Já assistiu?

Ela disse...

E assim a vida transita , um dia depois do outro...

Na simplicidade a certeza que nós ditamos o próprio ritmo. Nós e mais ninguém!

Ela disse...

Me permita: Eu assisti Amelie e Ammmmmeiiiiiiiiiiiiiiiiii