
Confesso uma certa resistência em não ver poesia nas coisas, mas há horas em que se há de enxergar um pouco em prosa. Andei pensando no que já dizia o poeta “ o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Certas coisas me fazem pensar que é nesse estado de anestesia em que vivemos hoje.
Se esse tempo merecesse classificação, o classificaria como a “era do tudo pode”. Pode ser desleal, pode dar no primeiro encontro, pode esquecer uma grande amizade quando seus interesses falam mais alto, pode magoar terceiros desde que nunca, jamais em tempo algum se deixe de olhar somente para seu umbigo. Pode também ver criança na rua e achar normal, pode ver político corrupto e não reagir.
Não, não estou tentando aqui defender a moral e os bons costumes. Sempre fui dessas divas meio atiradinhas, daquelas que chocam familiares mais conservadores com suas opiniões. Mas tudo tem limite. Só 0 sobre 0 é infinito.Acho que essa é a única excessão que conheço para o limite.
Fico pensando em qual sentido dar a certas coisas que, infelizmente, hoje em dia me parecem antiquadas. É antiquado amar um só, o bom mesmo é amar vários na superficialidade e não amar ninguém. Ok, se isso é uma fase da vida da geração que já sabe namorar e é de tudo mundo e todo mundo quer bem, que assim seja. Mas cada dia, os laços me parecem mais frágeis.
Cresci ouvindo meus pais me ensinarem o valor da amizade, o valor do respeito pelos mais velhos e também pelos mais novos. Aquela velha máxima, que também já deve ter caído em desuso,não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você.
Acho que do alto da minha vida moderninha, do meu jeito descolado, da liberdade que canta em meu peito fiquei antiquada. Porque não consigo achar normal deslealdade, falta de amizade, falta de sinceridade, atrocidades.
É pai virando filho, filho virando pai aos quinze anos. É uma falta de caretice inacreditavelmente careta. Inadequada, inapropriada. O legal mesmo é se permitir no carnaval. Afinal, no carnaval tudo pode. Não compreendo muito bem esse rito, porque pra mim tudo pode, todo dia.
Mas confesso que me peguei sendo antiquada, anacrônica, careta e velha como dizem as más línguas. Só porque cometi o crime de ter valores e princípios. Se a ignorância é companheira da felicidade como reberveram por aí, opto por não ser feliz. Pelo menos não a felicidade do senso comum. Se fazer o bem sem olhar a quem e viver sim, como se cada dia fosse o último mas, sem que para isso, tenha que passar por cima de ninguém é antiquado. Sou ré confessa.
Confesso, sou antiquada. E por mais estranho que seja me orgulho disso.