segunda-feira, 23 de março de 2009

Daquela varanda...


E aí eu fiquei pensando que apaixonar-se por si mesmo pode ser uma trajetória das mais interessantes, ou não. Tudo depende de como vamos olhar para dentro, se com olhar de Hitler que faz da palavra ordem, repressão, ou se com olhar de mãe. Porque mãe é conhecedora exímia de cada um de nossos defeitos e é capaz de apontá-los para que nos tornemos pessoas melhores.

Não entendo o porquê do temor da solidão. Não digo solidão perpétua da imposição de assim ter que ser. Digo da solidão opção, de estar consigo mesmo porque nada nem ninguém é melhor companhia para si do que nós mesmos. Fico pensando que, talvez, a explicação esteja na sociedade em que vivemos onde tudo é consumo, talvez seja isso, consumir o tempo de qualquer maneira (produtiva ou não) para não lidar com o vazio.

O que se perde aqui é que, também o vazio, pode ser e na maioria das vezes é construtivo. Porque ele traz a tona o que estava ali pedindo para ser assimilado. Enxergar o que precisa ser visto pode ser trabalhoso.

Dizem por aí que o sofrimento é opcional. E acabo de acreditar que a dor também pode ser. Porque muitas vezes vivemos dores que não são nossas. Das culpas,dos medos, das transferências. Muitas vezes optamos pelo caminho da dor porque assim fomos criados, assim nos foi imposto pela sociedade judaico cristã, que acredita que grandes vitórias requerem alguns sacrifícios. Já começa errado daí. Porque não fazer do caminho um lugar prazeroso de se habitar?

Não entendo muito bem essa coisa de que os fins justificam os meios. Na maioria da vezes ficamos tão presos ao objetivo final que nos esquecemos da celebrar as pequenas conquistas. Parto do pressuposto que a vida deve, sim, ser comemorada. Não dizem que a guerra é feita de pequenas batalhas? Então, porque não comemorar a vitória das pequenas batalhas que travamos a cada dia com os outros e com nós mesmos?

Por que não colorir e viver sempre em sépia? Ando pensando nessas sutilezas diariamente. De menos, bem menos. Porque caminhar mais leve é sempre bem mais agradável. Difícil livrar-se do que não serve mais. Creio eu, que ao longo de nossas vidas vamos preenchendo nossas mochilas com aquilo que julgamos ser necessário, e muitas das coisas, de fato o são. Mas, uma hora a gente cresce e aquele sapato fica apertado no pé. Mas o sapato era tão bonito, e de mais a mais vivi tantas coisas boas calçada com ele. E nesse instante, a coragem de doá-lo para outra pessoa, que com certeza, nesse momento faria melhor uso dele vai para o ralo. E ali ele fica. Guardado na mochila. Sem função.

Acho que assim também são os sentimentos. Muitas vezes guardamos a sete chaves emoções que já não cabem mais no atual momento só porque um dia foi bom. O que esquecemos é que não se vive de foi e sim de é.

Por esse motivo, de tempos em tempos faço a limpa no armário e o que não me serve mais, dou. Para alguém que certamente fará melhor uso que eu. Para alguém que vá saber dar o exato valor daquilo que para mim já deixou de ter.

Seria tão mais fácil se o processo do desapego não tivesse que ser doído e pudesse ser curtido com todos os seus sabores, até o sabor da saudade. Porque se algo deixa saudade é porque por algum instante, por menor que ele seja, foi bom. E se foi bom porque esquecer? Não reviver, apenas deixar guardado em um lugar em que se possa visitar.

Penso nisso a cada vez que visito aquela varanda, naquele dia em que eu tinha certeza de que algo se iniciava. O que eu não sabia é que algo poderia ser tão inesquecível. E de tão inesquecível é sempre relembrado por nós. De tantas e imensas coisas que vivemos, que só é verdadeiramente grande para nós.

Porque você sempre me diz tanto com o seu silêncio, com o seu sorriso. Porque sempre foi tão real que nem o tempo, nem as mudanças foram capazes de apagar...


 Limp Bizkit - Behind Blue Eyes

13 comentários:

Ela disse...

Eu sofro do mal do apego.
Me apego a fatos, coisas, cores, sabores... mas principalmente a pessoas. E eu bem sei a dificuldade de desapegar.

Guilhermé disse...

Procura a versão original do The Who é bem mais poderosa ;)

. fina flor . disse...

também não entendo o medo da solidão, amiga, especialmente porque sempre estamos sós, mesmo quando temos companhia e também adoooooro fazer "limpas" nos meus armários.

beijocas,

MM.

NiNah disse...

Caramba, que gostou foi eu. Obrigada por passar lá no meu canto. Amei aqui. Esse texto realmente me emocionou.
Bjos

Unknown disse...

Essa saudade de um tempo que foi bom, já me incomodou tanto.
Mas quando resolvemos deixar pra lá as coisas, deixar as coisas sumirem e se esforçar pra isso se torna apenas uma lembrança que vez ou outra chegamos a lembrar e ter a certeza que foi bom. Como se ninguém tivesse ido embora, mas alguém que te deixou presentes.Bons e ruins que no fim algo bom vem acompanhando nem que seja mais maturidade. :D

Nem preciso dizer o quanto é lindo o que tu escreve. hahaha

Camila disse...

noossa, me surpreendeu agoraa hein!! que textooo maravilhoso *-*

Unknown disse...

Gosto de te ler.
Lembranças são tudo.
Ah, a versão dessa música do The Who é bem melhor.
Bjos,
Paulinha
http://frasesdeseriados.blogspot.com/

Paula Barros disse...

Mudanças não são fáceis e você falou muito bem no post abaixo.

Assim é o conhecer-se, lidar com nós mesmos, e saber que algumas mudanças são difíceis, doloridas.

Esse conhecer-se, acredito, precisa vir acompanhado de muita auto-compreensão, até de umas reservas de auto-perdão, e assim e mudando gradativamente.

abraços com carinho

Unknown disse...

Tens escrito sobre desapego... Que Deus a ajude no caminho, e nos ajude a só viver o que é realmente válido e real. Bjs (e continuo feliz pelo seu jeito de escrever) :*

...aquela que voa disse...

Tens escrito sobre desapego... Que Deus a ajude no caminho, e nos ajude a só viver o que é realmente válido e real. Bjs (e continuo feliz pelo seu jeito de escrever) :*

(fui eu, a Lala)

Camila disse...

"Muitas vezes guardamos a sete chaves emoções que já não cabem mais no atual momento só porque um dia foi bom. "

Estou aprendendo a me faxinar.

BeijO

Anônimo disse...

acho que nos apaixonar por nós mesmos é uma saída feliz para nossas vidas descabelantes...

Guilhermé disse...
Procura a versão original do The Who é bem mais poderosa ;)

*eu gosto dessa versão.
;)

Anônimo disse...

Dói pra caramba nos desapegar de um pedaço de nossa história, mas às vezes é necessário por um bem mair pra nós.
Que seus dias fiquem mais leves e cheios de luz quando conseguir deixar isso pra trás.
Fica bem.
beijo!