domingo, 29 de março de 2009

Dos acordos...


Inacreditavelmente permaneci alguns longos minutos em frente a página em branco. Sentei para escrever, na verdade sem nada em mente para escrever. Mas senti a necessidade de jorrar palavras. Só não sabia quais. E aquela falta de assunto, falta de letras, confesso ter me causado uma certa angústia. Uma claustrofobia de mim mesma. E nesse momento senti uma enorme vontade de acender um cigarro, como se ele pudesse trazer de algum canto perdido minhas inspiração. Mas acabei lembrando que parei de fumar.

Estava eu ali, frente aquele objeto de formato cilíndrico e capaz de me causar um enorme prazer. Não, o objeto em questão não era um vibrador e sim um cigarro. E diante daquela imensa frustração começaram a pipocar idéias em minha cabeça. Que fique claro aqui que a frustração não se devia ao fato de não acender aquele objeto, o que me martirizava era o fato de bem diante dos meus olhos comprovar que estava prestes a descumprir o acordo que havia feito comigo mesma.

De repente me deu o insight de que, em grande parte, nossas frustrações se devem ao descumprimento daquilo que acordamos com nós mesmos. Não seria aquele único cigarro o responsável por desencadear todas aquelas doenças que já sabemos que o maldito causa, visto a enorme quantidade de nicotina que coloco em meus pulmões desde os treze anos de idade. O que me faria mal é comprovar a impossibilidade de manter com o que planejei para mim.

E nesse momento em que comprovei o porquê da frustração, imediatamente, se iniciou um processo de barganha. É, isso mesmo, barganha. Eu lutava com todas as forças e lançava mão dos maiores e dos menores argumentos para aquietar a minha mente. Expliquei a ela, num processo completamente irracional que aquilo me faria muito mal e que quanto mais eu adiasse pior seria. Que já estava mais do que na hora de por fim naquele relacionamento duradouro.

Mas como todo relacionamento, porque alguns me parecem até mais cancerígenos do que o cigarro, nossa separação foi dura. Minha criança interior, confesso já meio crescidinha, me afirmava que aquele seria o último, como um beijo de despedida. Mais uma vez a barganha. Mas pra que descumprir com todas as minhas metas, ignorar todo o meu esforço até o dado momento em prol de um único instante de alegria, uma falsa alegria.

Acredito que quando tomamos uma decisão devemos conviver com ônus e o bônus de forma pacífica. Afinal, não dá para tomar um picolé de brigadeiro e não ingerir junto com ele as suas milhares de calorias. Pronto, chego ao final desse texto com meu acordo devidamente cumprido. Nada de cigarro. E que fique aqui registrado que o gozo de ser dona das minhas vontades e de perceber valor em minhas decisões é muito maior que o gozo que aquele objeto cilíndrico exalando fumaça.

Que todo relacionamento, independe de sua origem uma hora tem seu fim. Assim funciona com cigarros, homens e mulheres.



Queridos, também estou aqui: http://no-banheiro-feminino-blog.blogspot.com/

segunda-feira, 23 de março de 2009

Daquela varanda...


E aí eu fiquei pensando que apaixonar-se por si mesmo pode ser uma trajetória das mais interessantes, ou não. Tudo depende de como vamos olhar para dentro, se com olhar de Hitler que faz da palavra ordem, repressão, ou se com olhar de mãe. Porque mãe é conhecedora exímia de cada um de nossos defeitos e é capaz de apontá-los para que nos tornemos pessoas melhores.

Não entendo o porquê do temor da solidão. Não digo solidão perpétua da imposição de assim ter que ser. Digo da solidão opção, de estar consigo mesmo porque nada nem ninguém é melhor companhia para si do que nós mesmos. Fico pensando que, talvez, a explicação esteja na sociedade em que vivemos onde tudo é consumo, talvez seja isso, consumir o tempo de qualquer maneira (produtiva ou não) para não lidar com o vazio.

O que se perde aqui é que, também o vazio, pode ser e na maioria das vezes é construtivo. Porque ele traz a tona o que estava ali pedindo para ser assimilado. Enxergar o que precisa ser visto pode ser trabalhoso.

Dizem por aí que o sofrimento é opcional. E acabo de acreditar que a dor também pode ser. Porque muitas vezes vivemos dores que não são nossas. Das culpas,dos medos, das transferências. Muitas vezes optamos pelo caminho da dor porque assim fomos criados, assim nos foi imposto pela sociedade judaico cristã, que acredita que grandes vitórias requerem alguns sacrifícios. Já começa errado daí. Porque não fazer do caminho um lugar prazeroso de se habitar?

Não entendo muito bem essa coisa de que os fins justificam os meios. Na maioria da vezes ficamos tão presos ao objetivo final que nos esquecemos da celebrar as pequenas conquistas. Parto do pressuposto que a vida deve, sim, ser comemorada. Não dizem que a guerra é feita de pequenas batalhas? Então, porque não comemorar a vitória das pequenas batalhas que travamos a cada dia com os outros e com nós mesmos?

Por que não colorir e viver sempre em sépia? Ando pensando nessas sutilezas diariamente. De menos, bem menos. Porque caminhar mais leve é sempre bem mais agradável. Difícil livrar-se do que não serve mais. Creio eu, que ao longo de nossas vidas vamos preenchendo nossas mochilas com aquilo que julgamos ser necessário, e muitas das coisas, de fato o são. Mas, uma hora a gente cresce e aquele sapato fica apertado no pé. Mas o sapato era tão bonito, e de mais a mais vivi tantas coisas boas calçada com ele. E nesse instante, a coragem de doá-lo para outra pessoa, que com certeza, nesse momento faria melhor uso dele vai para o ralo. E ali ele fica. Guardado na mochila. Sem função.

Acho que assim também são os sentimentos. Muitas vezes guardamos a sete chaves emoções que já não cabem mais no atual momento só porque um dia foi bom. O que esquecemos é que não se vive de foi e sim de é.

Por esse motivo, de tempos em tempos faço a limpa no armário e o que não me serve mais, dou. Para alguém que certamente fará melhor uso que eu. Para alguém que vá saber dar o exato valor daquilo que para mim já deixou de ter.

Seria tão mais fácil se o processo do desapego não tivesse que ser doído e pudesse ser curtido com todos os seus sabores, até o sabor da saudade. Porque se algo deixa saudade é porque por algum instante, por menor que ele seja, foi bom. E se foi bom porque esquecer? Não reviver, apenas deixar guardado em um lugar em que se possa visitar.

Penso nisso a cada vez que visito aquela varanda, naquele dia em que eu tinha certeza de que algo se iniciava. O que eu não sabia é que algo poderia ser tão inesquecível. E de tão inesquecível é sempre relembrado por nós. De tantas e imensas coisas que vivemos, que só é verdadeiramente grande para nós.

Porque você sempre me diz tanto com o seu silêncio, com o seu sorriso. Porque sempre foi tão real que nem o tempo, nem as mudanças foram capazes de apagar...


 Limp Bizkit - Behind Blue Eyes

segunda-feira, 16 de março de 2009

Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar...


Que fique bem claro que aquele não era um corte de cabelo qualquer. Não era, tampouco, um ato desesperado em prol de uma mudança que deveria ser interna, mas que como não fora possível, me serviu de consolo minha imagem diferente refletida no espelho.

Também não era um corte pra revolucionar, na verdade, dizem aqueles entendidos de madeixas que cortar o cabelo de tempos em tempos o torna mais forte. Dá força pra crescer. Sempre achei meio esquisito essa coisa de cortar para crescer. Não seria o contrário?

Agora entendo exatamente o pobre do meu cabelo, porque no fundo entendi que somos assim. Assim como cabelo, de tempos em tempos há de se cortar o que é demasiado pesado para que se possa crescer. Ah, se eu soubesse disso antes. Talvez adotasse um chanel.

Mas voltando ao corte. Do cabelo. Havia algo de redenção em ver aqueles fios no chão. Ao contrário da maioria das mulheres que sofrem de uma espécie de depressão pós corte, aquele ato me libertava. Talvez fosse a transmutação do desapego (visto que ainda não consigo me desapegar dos meus scarpins e da minha incrível coleção de óculos escuros).

Arrisco até a dizer que o visual não era o que mais importava e sim a simbologia daquele momento, em que deixo algo que já não me pertencia mais para trás. Ou talvez eu acredite que na atual fase da minha vida, madeixas mais curtas combinem bem com meu estado de espírito. Curta e grossa.

Ou talvez o meu pescoço a mostra evidencie os meus despudores e minha relação pacífica com a nudez. Das roupas e dos pesares. Ando assim, meio, ou melhor, completamente despida de qualquer um daqueles sentimentos que impedem o crescimento.
Ando me divertindo com meu vizinho que se põe a postos em sua janela enquanto me observa com minha mania de andar como vim ao mundo pelo meu apartamento. Quer olhar, olha. Azar ou sorte sua querido voisin.

Sabe o que eu acho? Que vou aderir a essa coisa de ter menos, sabe. Menos cabelo.Sinto-me mais livre assim. Acho até que vou abrir um champagne pra beber com morangos enquanto danço jazz. Sim, tudo isso pra comemorar o novo. O novo corte, ou cortes daquilo que tiram força para que se cresça.

Acho que esse ritual (porque cortar o cabelo para mulheres trata-se de um ritual, dos mais sagrados) mexeu muito com minha cabeça, com o perdão do pobre trocadilho. Agora sim, vou andar exibindo meu pescoço e minha falta de vergonha por aí.
Vizinho querido, mais uma novidade pra você! Amusez vous!

 Alceu Valença - Tesoura do Desejo