segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Das cascatas...


Custei a perceber que não era eu quem escolhia as palavras. E sim eram elas que me escolhiam, caiam como cascata, assim, como um médium psicografa. Custei a entender que não sou eu quem escolho as letras que pouco a pouco se juntam em busca de um significado. São as sensações que invadem a folha de papel em branco e dizem coisas que não cabem entre linhas.

Que não cabem no silêncio ou somente no campo das idéias. São desenhos e traços de um turbilhão de pensamentos mansos ou dos mais vorazes que me invadem bem na hora em que me encontro na contramão. No contra fluxo das verdades inabaladas e inabaláveis.

São como grãos de areia no infinito de um deserto, onde o meu oásis reside dentro. Porque há tempos em que pesquisar o dentro é o melhor e mais grandioso ato antropológico. Onde residem todas as riquezas, algumas jamais reveladas anteriormente.

Olhar para dentro requer ingredientes como cautela, carinho e zelo. Além de sorriso nos lábios para se re-conhecer e se- reaprender. Quando todos os padrões gritam por serem desconstruídos e para que algo novo ganhe forma.

Algo ou alguém que merece um trabalho profundo de conhecimento de si e do outro. Ou de si pelo outro. Algo entre a frágil linha do perder-se e encontrar-se. Algo entre a sutileza do que nunca se foi ou nunca se pensou ser.

É nesse exato instante, em que o mar de consoantes e vogais se unem para que eu possa entender o que, muitas vezes, é o silêncio quem diz. Há quem não consiga conviver com o seu próprio silêncio e tenha a necessidade eterna do grito.

Sem contudo, perceber que, algumas vezes, é na ausência das palavras, do som, dos alicerces que nascem grandes fortalezas. Não a fortaleza de pedras e sim da maleabilidade, do elemento água.

Da maleabilidade de ser e não ser simultaneamente.