segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Coisas que não devo esquecer...


Estava eu em meio aos meus devaneios femininos conversando com uma amiga a respeito da minha monografia. Conversávamos sobre a hipocrisia do ser humano que finge viver em um mundo perfeito e mascara seus pré-conceitos atrás de um discurso moralista que não convenceria nem uma criança de cinco anos.

Conversávamos sobre a atuação das mulheres no mercado de trabalho e como os homens lidavam com suas supostas chefes e como algumas piadinhas do tipo “mulher no volante perigo constante” passam desapercebidas e até nos parecem naturais nessa sociedade inegavelmente machista em que vivemos.

Trocávamos figurinha do que acreditávamos ser o perfil da nova mulher, a mulher do século XXI. Cheguei a lembrar das palavras que minha querida mãezinha me ensinara desde o berço. – Minha filha seu primeiro casamento deve ser com seu emprego. Se for para ficar ao lado de um homem que seja por amor e não por falta de opção.

Estávamos ali, duas mulheres modernas quando um ser humano (se é que esse indivíduo reside no planeta Terra) nos interrompe. Abaixo pequenos fragmentos das elocubrações desse cidadão:

- E aí gatas, o que vocês tanto fofocam?

Confesso que fiquei muito tentada a virar as costas e me retirar do recinto. Que espécie de ser humano chega sem ser convidado a uma conversa, interrompendo o assunto com a interjeição gatas? Como tenho me esforçado em praticar a paciência respondi ao meu nobre colega:

- Sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Eis que recebo a seguinte resposta:

- E uma mulher como você precisa trabalhar?

Fiquei pensando em que grupo de mulheres aquele ser me encaixara. Por tolice resolvi indagar:

- Que tipo de mulher?

- Ah, você sabe. Maior gata (parece que o camarada acabou de incorporar o vocábulo gata em seu “vasto” conhecimento da língua portuguesa). Até parece que você não arrumava qualquer um que te bancasse.

- Querido colega, quem disse que eu quero ter ao meu lado “qualquer um”? E outra coisa que tipo de ser extraterrestre você é para achar que eu quero que alguém me banque?

- Ah, fala sério você é maior patricinha. Vem sempre arrumadinha para faculdade. Não to querendo te ofender não. Tô fazendo um elogio, você é um mulherão.

De fato devo ser um mulherão perto de uma criança. Mas realmente fiquei em dúvida se aquele sujeito era uma criança ou um acéfalo. Como sou uma lady resolvi terminar a conversa por ali mesmo antes que a amiga com quem conversava antes de sermos interrompidas tivesse motivos para ficar sem graça.

- Querido, realmente esse tipo de assunto não deve ser conversado com qualquer um, mas bom saber sua opinião. Assim confirmo minha teoria de que não se fazem mais homens como antigamente.

Virei as costas e resolvi anotar no meu bloquinho imaginário, onde anoto coisas que não devo jamais esquecer:

1- Não fazem mais homens como antigamente. Lords são uma espécie em extinsão;
2- O ser humano tem uma forma muito peculiar (para não dizer absurda) de eleogiar uma pessoa;
3- É preferível ser antipática a agredir meus ouvidos escutando tamanha asneira.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Shall we dance?


Dizem que os olhos são as janelas da alma. Se os olhos assim o são creio eu que os ouvidos sejam , então, senhas dos sentidos.É inegável a capacidade que certas músicas têm de me levar para outro lugar. De fazer meu corpo morada do desejo. É inegável que de repente me pego em outra dimensão, em uma dança onde meu corpo se veste apenas de brisa.

E meu corpo, esse sim tem sido veículo das mais variadas sensações.É ele que me conta quando minha cabeça se faz de teimosa e tenta ignorar. Mas nada passa. Nem a falta de fome de uma angústia, nem o arrepio das horas agitadas em que jorram de mim o líquido sagrado dos amantes.

Talvez seja o corpo que me jogue na cara a minha mortalidade e que me traga para dimensão humana. É ele que me arranca do tapete vermelho peculiar de toda e qualquer diva. É ele que grita e ri da minha pretensão de ser quase perfeita. É nele onde ocorrem as transformações mais interessantes que de tempos em tempos brotam de uma parte onde o intelecto não reside.

É quando ele dança, quando ele vibra, quando ele permanece que sinto o famoso tesão. Tesão pela vida, pelas sensações. Tesão, porque pode até ser que exista um ser humano nada humano que viva bem a vida sem tesão. Mas quanto a mim, jamais!

É ele que me joga, que grita e muitas vezes, nessas horas em que meu cérebro cansa de bancar o manda-chuva, me mostra um mundo novo. Nessas horas de descuido é ele quem me faz experimentar as situações mais quentes e mais intrigantes.

É meu corpo que denuncia quando sinto um cheiro que me atrai. É meu corpo onde as maiores descobertas encontram sua porta de entrada. É ele que dança como se quisesse sentir de uma vez só uma descarga de endorfina. É ele que te convida a dançar.

O corpo é desavergonhado, despudorado. Não tem a censura que a psique impõe tantas vezes quando quero tirar o pé do freio e pisar fundo no acelerador. E se não fosse o corpo meu amigo, com certeza não teria vivido tantas e tamanhas aventuras.

É por fim o corpo que me torna humana demasiadamente humana.

Shall we dance?


 Gotan Project - Santa Maria

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Take your passaport...


E se eu resolvesse arriscar todas as minhas fichas? Você viria comigo? Você me daria a mão nesse vôo turbulento ?

Você passaria a mão na minha cabeça e faria o vento lá fora parar? Você faria o furacão que reside em mim acalmar? Seria capaz de entender que mudanças me assustam mas que nem por isso recuo porque sei que nada começa sem que seja plantada a primeira semente?

E se um dia eu acordar e resolver que não é nada disso ainda assim você viria comigo? Pra onde? Não sei.

E se tudo mudasse de novo e dessa vez pra melhor e eu tivesse a ousadia de te confessar que morro de medo de tantas mudanças, e que sim me acho genial, mas o medo de falhar me acompanha como todo e qualquer ser humano.

E se um dia eu fizer de tudo pra afastar você de mim quando o que eu realmente quero é o oposto você ainda estaria lá? Seria você capaz de ler além das linhas e entrelinhas assim como você lê todas as curvas do meu corpo?

E se um dia eu cansar de andar, você me mostraria que quem não caminha não chega? Seria capaz de me arrancar das centenas de desculpas e compromissos só para andar pela praia em dia de sol?

E se eu chegasse a chorar, você entenderia que só quero teu silêncio acompanhado da tua presença? E quando eu menos merecesse ainda assim você estaria ao meu lado?

E se eu cismasse que quero conhecer a Europa, que quero andar pelo mundo, que quero usar um espartilho só pra você? Você embarcaria?

Então, pega teu passaporte e vem comigo....

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

All we need is love...


Confesso uma certa dificuldade em colocar em palavras algumas sensações. Jorrar angústia e melancolia sempre coube melhor em papel. Agora entendo quando dizem que fazer comédia é mais difícil que fazer drama.

Talvez isso deva à falta de palavras que dêem conta do orgasmo que é viver. Talvez algumas sensações não devam mesmo ser transcritas porque elas pairam no ar como bolhas de sabão. São tão sutís que quando encontram o tato se desfazem. Talvez o essencial seja realmente invisível aos olhos.

Confesso que escrever sobre minhas agonias e indagações é muito mais paupável e que nesse momento a ausência me é estranha e companheira. Uma sensação de auto- entrega e devoção às surpresas que a vida vem me impondo de maneira feliz.

De repente as interrogações saem de cena e me deixam apenas com esse gosto melado de viver a cada dia sem a grande preocupação do que eu faço hoje vá acarretar no amanhã. Demorou um pouco mas acho que finalmente entendi que é na ausência onde reside a plenitude.

Não, ao contrário do que pensava a ausência não é vazia, é plena de sabedoria e de sorriso de criança. Ausência pode ser conhecimento e morada de uma alam tranquila que prefere esvaziar-se a viver transbordando. Não que transbordar não seja bom desde que não cause enchente.

Nunca poderia imaginar que quando aceitasse a tal ausência tudo que mais me preenche começasse a brotar frente aos meus olhos. Creio eu, que tempos amenos estão por vir. E já coexistem com o caos necessário para dar a luz a uma estrela brilhante.

Finalmente alegria e euforia são palavras distintas e a tranquilidade dos dias ao invés de tédio me provoca doces suspiros. As certezas absolutas se esvaem e sem a menor culpa as deixo ir e me torno fluxo.

É tempo de colheita. É tempo de semeadura em meu ventre. É tempo de se emocionar ao ver o véu da noiva. É tempo de calmaria.

E de repente.... All we need is love!




Queridos, jamais poderia deixar de compartilhar um momento tão feliz como o que estou vivendo. E jamais poderia não documentar o casamento da minha grande amiga.
Camila e Ryan que essa nova etapa seja de muitas descobertas e muito amor. Remember guys, all we need is love!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Só deixo meu coração na mão de quem pode...


Só deixo meu coração na mão de quem pode. De quem pode perder o controle, extrapolar o limite, de viver o hoje, de me arrancar desejo, de me fazer gozar, de me suprir, de me faltar.

Na mão de quem pode fazer da vida eterna piada, champagne com morango, momento sublime, o presente do futuro e o riso do passado. De quem devora tudo como se estivesse anos sem comer. De quem me marca com a alma. Porque só quem vive por inteiro tem aquele carimbo capaz de marcar almas.

Não deixo meu coração na mão de gente irresponsável que se esconde nas palavras, no fundo porque tantas palavras ocultam a pobreza dos sentidos. Não deixo meu coração ao vento, ao relento, com a falta de compromisso. Compromisso único com o sentir do vai e vem dos nossos corpos.

Faz tempo que aprendi que esperar é bem diferente de estagnar. Faz tempo aprendi que se não era pra ser assim não o será. Ainda que tudo indique sim, que pistas invadam meu caminho. Meu destino.

E o acaso? Esse meu maior aprendizado. O acaso é mau companheiro é sombra de quem não invade, não se atira. É desculpa pro não planejado. Acaso só se enche de sentido quando realmente acaso e não descaso.

Então só deixo meu coração perdido no acaso de quem ama livre, de quem não não faz mais jogo.

Porque ciúmes é medo de si mesmo de ver refletido no outro os seus desejos mais profundos concretizados por outro corpo que não o seu próprio. É insegurança de padrões pré- estabelecidos, dos ruídos, das ruínas.

Ruína de ter visto o maior projeto se afundando pela irresponsabilidade de entregar a própria vida na mão do outro e ainda culpar por não ter sido bem vivida. Ruína do sistema, do seu e do meu sistema umbigo.

Então só deixo meu coração na mão de quem ama ou se apaixona quente porque morno é leite de criança que ainda não está acostumada com o fogo da vida.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Das havaianas ao scarpin


Enquanto caminhava em meio ao corre- corre dos alunos ouvia Cartola ao fundo. Foi então que avistei em um canto uma feira de livros e CDs.

Amante da literatura e da música não pude deixar de ir conferir o que estava acontecendo. Quanto mais me aproximava mais me embalava ao som de Cartola.

E de repente...Estava eu ali, aquela menina recém chegada ao mundo acadêmico com minhas roupas despojadas e aquele ar de comunicóloga. É como se pudesse entrar em um túnel do tempo e lá estava eu de novo.

Uma viagem encantadora à uma época em que eu acreditava um pouquinho mais nas pessoas e ainda acreditava que de alguma forma iria mudar o mundo. Com o nariz arrebitado e sempre com uma resposta na ponta língua.

Quase pude sentir o gosto do cigarro que naquela época era meu companheiro inseparável. Aquela sensação de liberdade descompromissada. Uma sensação de que o mundo cabia nas palmas das mãos.

Lembrei do meu melhor amigo que caminhava sempre ao meu lado. Cheguei até a lembrar do meu namorado da época que fora o grande amor da minha vida antes de todos os meus posteriores amores.

De repente olho pra baixo e me deparo com meus scarpins caríssimos, mais um da minha imensa coleção de sapatos. De repente aquele scarpin serviu como um sopro de realidade. Foi então que percebi o quão distante essa executiva que anda em salto agulha se afastava daquela menina sonhadora.

Confesso ter sido um choque. Confesso uma sutíl melancolia com gosto de bolo quente. Confesso que hoje me sinto mais administradora do que comunicóloga. Confesso que senti saudades.