domingo, 31 de agosto de 2008

De dias chuvosos...



Ele a amava da forma mais sutíl. Desses amores doces com gosto de brigadeiro. Desses sentimentos puros com os quais ela não estava acostumada a lidar. Ele era calmaria para o vulcão que ela carregava consigo.

Ela nunca conseguiu entender tamanha doação, mas admirava. E nesses dias de mil dúvidas que carregava ele a abraçava como quem quer fazer cessar o pensamento só para mostrar que estava ali. Quando ela chorava sem motivo aparente ele silenciava e apenas lhe estendia a mão para que assim ela nunca estivesse só.

De certo um amor assim estava longe da compreensão dela que nunca foi muito ligada às coisas do coração. De certo porque qualquer coisa na esfera do sentir fugisse do seu vício de racionalizar tudo e da sua mania de reduzir tudo a uma sentença.

Talvez ele fosse Eduardo e ela Mônica. Talvez ela nunca entenda as famosas coisas do coração. Mas sem dúvidas ela é capaz de sentir. Quando ele coloca ela pra dormir como criança e amansa sua fera de mulher. Quando ele finge que não nota todas as suas mil defesas só para estar por perto.

Talvez sejam tão diferentes que nunca consigam entender as mil razões do outro. Mas ele sempre diz que não precisa entender basta que se viva o aqui e agora.
Sempre foi seu amigo mais fiel e aquele que sabe ficar nos bastidores porque sabe que ela gosta de brilhar. Sabe que ela não cabe em papel qualquer e que ser protagonista também carrega outras milhares de responsabilidades.

O mais curioso é que ele sempre a olha como se fosse a primeira e a última vez. Porque pra ele ela é a primeira sempre e a última e única.
E nesses dias chuvosos ele puxa o edredon e faz questão de protegê-la ainda que saiba que ela jamais pediria proteção. Talvez seja essa a razão da sincronia. Ele sabe o que ela precisa mesmo quando ela teima em dizer o oposto.

Ela é do mundo e ele é do mundo dela. Ele sonha em ter uma casa cheia de filhos. Ela sonha em viajar. Ele sonha com uma rotina saudável para sua família. Ela sonha em viver cada dia como se fosse único. Ela é rompante. Ele é constância.


Ela quer aprender inglês, francês, sânscrito. Quer discutir grandes questões, conhecer gente nova, fazer contatos. Ele só quer que ela entenda que isso não deve ser motivo para um isolamento e muito menos para o afastá-los. Ele só quer que ela entenda que se ela pedir ele vai. Seja lá onde for.

Ela se convence de que tamanho sentimento está fora de qualquer possível entendimento. Mas aceita de bom grado sua dedicação. E de tempos em tempos se permite ser mulherzinha com M maiúsculo. De tempos em tempos se permite sentir.

E nesses dias chuvosos ela pensa se seria tudo isso real ou uma imensa vontade de que fosse...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dos labirintos...


Existe no Swásthya Yôga uma regra geral que diz: Esforce-se sem forçar. Essa regra nada mais é do que um fator de segurança que nos lembra que somos humanos e como todos seres temos limites. Uns maiores, outros menores.

Assim creio que seja nossa vida. Devemos nos esforçar sem forçar. Sem forçar a barra em uma situação que não dá mais certo, sem forçar forças para ir além quando já tivemos sinais de que chegamos ao limite, sem nos agredirmos.

Difícil isso para uma pequena grande mulher acostumada a mover montanhas quando quer muito alguma coisa. Difícil frenar alguém tão acostumada a querer e poder quase tudo.
Eis que num golpe desses de sabedoria a natureza veio me mostrar que regras gerais devem ser seguidas, caso contrário a própria natureza grita de alguma forma que não dá mais. Foi isso que me aconteceu nessa última terça-feira quando o chão se movia mais do que minhas pernas e quando sentia o mundo girar. Tudo isso sem um gota de álcool.

Diagnóstico: Labirintite.

Causa: Estresse.

Recomendação Médica: Estresse-se menos e divirta-se mais.

E como orientações médicas devem ser levadas a sério de agora em diante ao menos vou tentar rir mais um pouco da vida e levar menos a sério o que no fundo não requer tanta atenção.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Das horas mudas...


De todas as coisas que gritam nada ecoa mais alto que o silêncio. Da falta de som e presença por pura e simples apatia de algo ou alguém. Ou de palavras que deixaram de ser ditas por uma razão ou outra e que se afogam no silêncio.

A ausência de som que não se deve à paz ou calmaria das horas ou melhor das minhas horas. A ausência de som porque já não ecoa, já não causa efeito e realmente me recuso a não ser percebida ou ser percebida de tal maneira que não me cabe.

O que não posso esconder nem sequer camuflar é que em meio a essa ausência meus olhos berram. Mas não posso culpar quem não sabe ouvir olhos. Na verdade o que incomoda mesmo é a mesmice da falta de sinais. Porque os sinais que me foram tirados indubitavelmente andam rolando por aí. De mão e mão e de uma mão que não afaga. Porque afago só é especial quando é único.

Pensando bem talvez o silêncio seja agora meu grande aliado por ser insuportável saber que as palavras que se desenham em meus ouvidos são as mesmas palavras de trezentos mil outros.

Vamos lá. Olhe bem para os meus olhos. Tenho olhos de outra qualquer? Definitivamente não! Então combinemos que daqui pra frente só me faça ver o que realmente se destina a mim e só a mim.

Não, eu não vou ter pudor em pisar com o salto do meu scarpin em cada palavra que não seja única e nem vou fazer questão de esconder minha risada de quem se deu conta do ridículo.

Porque o ridículo é lugar temido de todo ser humano vaidoso e não é que eu acabei achando graça. Em verdade não sei se rio da graça ou da des- graça. Das não graça, da não peculiaridade. Na verdade o ridículo vem do externo. Do ridículo de outrem que fiz questão de partilhar.

Então, o silêncio. De novo ele invadindo os espaços vazios das horas perdidas, do tempo gasto com o que no fim era apenas e tão somente, o ridículo. Sabe que é até divertido esse jogo. Você finge que sabe mentir e eu finjo que sei acreditar.

sábado, 16 de agosto de 2008

De como encaramos as coisas...

Mais que destino acredito que olhos atentos sejam a maior de todas as coincidências.

Nos últimos tempos andei pensando no peso das coisas. E esse vídeo acima veio a confirmar minhas idéias soltas que buscam conexão e mais do que isso veracidade.

Andei pensando que tudo pesa o peso que lhe atribuímos.
Agora a questão que realmente fica no ar é: porque algumas pessoas fazem questão de tornar tudo tão pesado e outras conseguem levar durante a vida em sua bagagem apenas um saco de plumas?

Ponto de vista. Eis aí a resposta que me vem a cabeça, não que seja a única ou a correta. Apenas a que me ocorre nesse momento.

Durante algum tempo carreguei o peso de fantasmas que pesavam toneladas. Mas de repente de um desses felizes insights resolvi que agora só cabe pluma.

Não, definitivamente jamais seria Polyana. Jamais viveria no melhor dos mundos. Nem tão pouco hoje sou a mesma que vai acordar amanhã.

O que mudou não foi o ser. Foi apenas uma troca de verbo. Deixo de ser e passo a estar. Ser fluxo de repente me parece muito mais interessante do que ser rocha.

Mas... Se amanhã me for útil volta a ser rocha, não no engessamento das idéias, mas na firmeza das minhas decisões.

De um processo complexo de auto- estudo o que no início me roubava noites de sono e o apetite de repente me pego rindo. Rindo desse processo que sem porque, coisa rara na minha vida de eterna pesquisadora de razões, agora passa a ser divertido.

Até aquelas verdades mais doídas hoje me fazem rir. Não que elas tenham ficado leves, mas enxergo agora a capacidade de mudar.

Tudo bem, adimito. Adimito que assumir que essa mulher decidida e com pisar firme no fundo oculta uma criança mimada não é tarefa que se realize do dia para noite.

Ainda não sei bem o que vai sair dessas tantas mudanças. Ainda não sei que molde vou ter, ou talvez nem tenha algum molde. Mas que o caminho está sendo fascinante, isso é inegável.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Devaneios...

" Amou daquela vez como se fosse a última..."
Assim tenho realizado minhas ações e pensamentos. Só não descobri se isso é bom ou ruim...







Que a nossa mente é o mais poderoso brinquedo que já inventaram não tenho dúvidas. Mas algumas questões realmente merecem nossa atenção, ainda que passageira. Hoje, lendo o post de uma amiga de longa jornada parei para pensar nas reais cores da vida.

O que de fato acontecem com nossas lembranças? Algumas memórias têm tanta cor que chegam a ofuscar nossa visão, outras mais parecem um retrato preto e branco tão longínquo que quase não as reconhecemos como nossas.

A questão aqui é: Teriam mesmo tanto brilho algumas de nossas recordações? Ou seria uma auto- justificativa, um monólogo em que nós mesmos nos dizemos, dessa maneira, que valeu a pena viver determinada situação?

Será que aquele sofrimento era mesmo tão intenso e aquele amor tão verdadeiro? A questão aqui é que muitas vezes manipulamos, ainda que de forma inconsciente nossas lembranças. Algumas vezes para justificarmos o ridículo de alguma situação, ou uma felicidade sem aparente explicação.

Por outro lado, alguns momentos que de fato foram intensos são transformados por nós em página velha de livro, deixados no canto apenas para não termos que dar a eles a atenção devida. Principalmente se isso nos causa alguma éspecie de dor.

O que realmente importa não são as maquiagens e pinturas que cada um de nós dá de forma peculiar aos seus guardados. Desde que se deixe no passado, lugar sutíl dos recuerdos, o que pesa na bagagem.

Lembrar só faz mal quando se perde o agora em prol de algo que já foi. Então, se não temos certeza de como será lembrado por nós esse presente que chamamos assim de presente vivamos como se a qualquer momento pudéssemos sofrer de amnésia. Ainda que de amnésia seletiva.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dias de Faxina...


Cartas antigas, contas velhas, sentimentos ultrapassados, pessoas anacrônicas, dúvidas inadequadas.
Porque há horas em que se faz necessária uma faxina.

APARIGRAHA
· A quinta norma ética do Yôga é aparigraha, a não-possessividade.
· O yôgin não deve ser apegado aos seus bens e, ainda menos, aos dos demais.
· Muitos dos que se "desapegam" estão apegados ao desejo de desapegar-se.
· O verdadeiro desapego é aquele que renuncia à posse dos entes queridos, tais como familiares, amigos e, principalmente, cônjuges.
· Os ciúmes e a inveja são manifestações censuráveis do desejo de posse de pessoas e de objetos ou realizações pertinentes a outros.
Preceito moderador:
A observância de aparigraha não deve induzir à displicência para com as propriedades confiadas à nossa guarda, nem à falta de zelo para com as pessoas que queremos bem.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Das mil e uma sentenças...


Domingo retrasado uma amiga querida, Mônica Montone, foi cronista convidada da Revista de Domingo do jornal O Globo. Seu artigo que carregava o título “ Filho é pra quem pode’ gerou grande repercussão e inúmeros comentários em seu blog Fina Flor.

Alguns desses comentários eram de mulheres indignadas com o artigo publicado. Algumas sugeriam que a escritora procurasse ajuda terapêutica, outros de pessoas mais lúcidas elogiavam a honestidade e simplicidade de seu texto.

O que me causou espanto foram as críticas nada construtivas dessas mulheres que defendiam a maternidade quase como ferramenta de se alcançar a plenitude. Então fiquei me questionando: quer dizer que se eu decidir não ter filhos estarei fadada a nunca ser completa? Será justo e são esperar que alguém nos complete?

Sinceramente esse dentre outros paradigmas me espantam em pleno século XXI. A ignorância alheia não me irrita mas me deixa boquiaberta. Não estou fazendo apologia contra a maternidade e sim contra os arquétipos criados e inseridos na nossa sociedade como verdades absolutas e irrevogáveis.

Realmente me causa estranheza e até mesmo um certo asco aquelas pessoas que proferem e vivem sentenças. Que se limitam a serem as mesmas como se essa rigidez desse algum embasamento e credibilidade às suas verdades tão absolutas quanto um desenho de criança. Recusar-se a entender outro ponto de vista é preocupante, mas repudiá-lo já passa a ser problemático.

Todas as pessoas que conheço que se agarram às suas próprias e insossas verdades são no mínimo duras e confusas. Que fique claro que não defendo que a cada segundo se mude de opinião porque nesse ponto deixa-se o versátil e torna-se bipolaridade ou multipolaridade.

Então quer dizer que lugar de mulher é na cozinha ou no pé de um berço? E os homens têm direito a viver da forma que bem quiserem? Ou ainda será que algumas profissões têm perfil masculino e outras feminino? Então, é também verdade, que homem não chora e é proibido de gostar de rosa? Ou toda atriz é puta, toda unanimidade é burra?

Essas e outras idéias fixas me divertem tamanho seu absurdo. Então vamos lá, vou desconstruir algumas rochas.

Sou vegetariana e não sou anêmica, nem fraquinha, muito menos tenho uma saúde frágil e meu sistema imunológico trabalha da melhor maneira possível. Só me recuso a comer cadáveres.

Pratico Yôga e não sou zen. Essa mania de achar que todo yôgin é tranquilo, calmo e leva a vida só a respirar e meditar é coisa de gente no mínimo desinformada. Também não acredito que para se conquistar o que se almeja tenhamos que passar por alguma espécie de provação e não tenho culpa de transar com um carinha na primeira noite. Isso definitivamente não me torna vulgar.

Vivo em uma filosofia tântrica, que valoriza a figura feminina e sua energia de criação e transformação ainda que esteja claro que vivemos em uma sociedade patriarcal e machista. Tá aí outro paradigma: tantra é uma filosofia comportamental, uma forma de estar na vida e não apenas um veículo para orgasmos múltiplos.

Tampouco fiz meus melhores amigos no bar como se costuma dizer por aí. Curso uma faculdade na área de exatas o que não me impede de ter o bom hábito da leitura e de ler autores que discutam questões humanas.

Os senhores da razão que me perdoem, mas essas convicções arcaicas me colocam a rir. Prefiro admitir que estiva errada a manter uma postura de quem vive com a verdade no ventre.

Porque afinal, o sol não girava em torno da Terra?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Do mesmo roteiro...


Em alguns dias eu vejo o mesmo filme. Em alguns dias as cores já são conhecidas e em alguns dias percebo que eu posso fazer um novo filme.
E em outros dias eu quero colo.