quarta-feira, 30 de abril de 2008

Cabo de guerra


Era um cabo de guerra. Ele puxava de um lado e ela de outro. Mediam forças o tempo todo. Eram fortes demais, nunca havia vencedor.
Um dia a bela moça resolveu soltar a corda, ele ganhou, mas ficou ali caído e sentado com a bunda no chão. Não havia agora aquela força que se opunha a sua própria. Foi então que esse rapaz percebeu que aquela jovem já não o queria mais.

terça-feira, 29 de abril de 2008

C'est La Vie


Poderia eu viver com o vazio da minha ausência de questionamentos? Poderia eu viver uma vidinha mais ou menos? Poderia eu dormir o sono dos justos? Poderia eu não querer ganhar o mundo?
Corre daqui, corre de lá. Não vai dar tempo! Não tenho tempo! Escreve, escreve, escreve, lê, lê mais um pouco e se afunda. Se afunda nos livros, nas interrogações, nas desconstruções.
Descontrução. Segundo o filófo francês, Jacques Derrida, só podemos entender o todo se o decompusermos em partes, se descontruirmos a totalidade afim de enxergar a minúcia das partes. Mas é aí que a coisa complica. Minúcias sempre trazem consigo aquelas poeiras que empurramos para debaixo do tapete.
Um tapete persa que esconde as perguntas que não têm resposta. Respostas que não necessariamente esclarecem ou se esclaracem não resolvem. A verdade é que algumas questões pedem, clamam por resignação. Algumas perguntas por mais que sejam respondidas não calam o vazio que trazem consigo.
Aceitar não é sinônimo de se acomodar. O fato é que viver dando murro em ponta de faca nada mais traz do que uma ferida constantemente aberta. Parece-me mais razoável fazer um curativo e esperar que essa dor latente causada pelo corte da faca afiada cesse com a cicatrização.
Cicatrizes existem não a toa. Elas estão ali, marcadas em nós para sempre que necessário possamos olhá-las e lembrarmos que aquele caminho não serve. Fazer da mesma maneira não nos levará a resultados diferentes.
Escolher novas trilhas, contar uma nova história é sinal de sapiência.
Um bom yôgin conhece a décima norma ética: Íshwara Pranidhána, a auto- entrega.
“O yôgin deve estar sempre interiormente seguro e confiante em que a vida segue o seu curso, obedecendo a leis naturais e que todo esforço para a auto-superação deve ser conquistado sem ansiedade.
Durante o empenho da vontade e da dedicação a uma empreitada, a tensão da expectativa deve ser neutralizada pela prática do íshwara pranidhána .
Quando a consciência está tranqüila por ter tentado tudo e ainda assim não se haver conseguido o resultado ideal; quando a pessoa está literalmente impossibilitada de obter melhores conseqüências, esse é o momento de entregar o fruto das suas ações a uma vontade maior que a sua, cujos desígnios muitas vezes são incompreensíveis.
Preceito moderador:
A observância de íshwara pranidhána não deve induzir ao fatalismo nem à displicência.” (Tratado de Yôga, De Rose)
Trata-se da certeza de que se fez o melhor que se pôde, ainda que o melhor não tenha sido como esperávamos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

GOOD LUCK


Despedir-se é coisa pra quem sabe. Pra quem sabe ser gente grande que tem a certeza que distâncias geográficas nada mais são do que oportuindades de conhecer novos lugares. Que grandes desafios fazem bem à alma e que quando se carrega alguém no coração não há espaço, vácuo, esquecimento.
Despedir-se é coisa pra quem sabe. Pra quem sabe ser criança e não ter vergonha dos olhos cheios de lágrimas por uma ausência não planejada. É pra quem antes mesmo de separar já pensa naquele nó na garganta que dá.
É coisa pra passarinho que sabe que mais cedo ou mais tarde é chegada a hora de voar. Voar pra distante, pra um novo horizonte mas sempre com a certeza do voltar.
Despedir-se é tarefa árdua e que exige certa compreensão de que se despede de uma pessoa, mas não da história construída, do sentimento já firmado, da certeza do companheirismo.
Desejar sorte na nova empreitada, falar para pessoa amada que não há nada no mundo capaz de separar duas almas já pré- destinadas a uma na vida da outra existir.
Controlar a saudade, se fazer de forte mesmo quando seu porto- seguro vai pra longe, quando aquele colo necessário fica mais distante.
Existe, porém, remédio pra saudade. Um remédio chamado amizade. Amizade companheira, cúmplice de toda maneira e que sempre faz sorrir.
Amizade de amiga, conselheira primeira, pessoa que vibra, que torce por mim. Querida pelos sorrisos arrancados, pelo esporro sempre bem dado e pelo jeito meigo de existir.
E que essa nova estrada se abra cheia de flores e que um belo pote de ouro te espere no fim desse arco- íris. Que a lembrança seja viva e que provemos pra quem ainda duvida que ainda vamos rir. Rir das nossas palhaçadas, das nossa dúvidas, dos nossos conflitos e das vitórias alcançadas.


Querida, estava evitando esse post porque sabia que nesse momento não podia deixar de jorrar lágrimas. Sabia que a saudade ia apertar mas que o peito iria estufar de tanto orgulho da minha maninha querida. Mas vai ser sempre Mary Jane, amiga, irmã, companheira, conselheira, filha, alma gêmea. Minha borboleta, vai que o mundo te espera!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Contradições


Contradições. Vivo me contradizendo, dizendo que isso não posso e cinco minutos depois o tão negado e infame se configura na mais deliciosa fantasia. Em cor viva, em brilho que cega.
Vivo negando. Negando que quero, que posso, que não vai dar. Negando as negações, porque não nunca me foi palavra amiga. Não, não cabe. Não cabe na minha sede de vida, na minha alma querida irrigada de paixão.
Uma hora feia, outra hora linda. Horas mulher adulta, dona de um sarcásmo explêndido e arrebatador. Horas não tão madura, raspando brigadeiro no fundo da panela, saciando minha vontade de uma vida mais doce.
Dona de um domínio sobre a razão, um jogo de cintura, uma voz que aconselha com meus vinte e poucos anos tão bem vividos. Tão bem arriscados, mas ainda sim um risco sob controle.
Explosão. Explosão de sentidos, de sensações, de aberrações. Louca, desvairada, divertida, vermelho sangue. Morango com champagne, cama de mola, travesseiro macio. Esmalte vermelho, gloss, salto alto, vestido, gingado, perfume.
Mantra, natureza, por Shiva Mahadeva! Sou isso tudo que enfiaram no liquidificador. Amada, amante, desejada, desejosa, sorriso, poesia, dança, cérebro.
Às vezes me faço de burrinha, dessas tolas e frágeis que precisam ser protegidas só pra você acreditar que no mundo ainda existem Cinderelas.
Trabalho, dedicação, abdicação, paixão, tesão, força, poder, energia. Forma de gente bem sucedida que nas suas mentiras vivem os mais belos dias. Feitos todos de porpurina, de plumas.
Plumas que me envolvem porque sou eterno teatro, umas vezes Shakespeare outras comédia pastelão. Rir, rir até a barriga doer, até faltar o ar, até acreditar.
Riso é meu refúgio, meu paraíso mais bonito. Lugar de criação das maiores e mais belas artes, artes humanas, de histórias coloridas.
Se fosse uma flor com certeza orquídea, dessas bem raras e caras. Dessas mais finas e contempladas por olhos de entendedor.
Se fosse um pecado vaidade, vaidosa, perua, sofisticada. Anita mimada, bem criada, mal criada.
Amiga, informada, culta, bem amada!

terça-feira, 22 de abril de 2008

It`s all about choices...


Lá estava eu sentada diante daquele homem tão sábio e tão sereno. Serenidade vinda das experiências. Que não se confunda aqui serenidade com passividade.
Trata-se do contrário, estava ali sentada ouvindo esse mesmo homem falar sobre vida e sobre o poder das nossas escolhas.
Dizia ele que alguns de nós se escondem atrás da famosa frase: “ Estava escrito”. Não, não estava. Quem está escrevendo na verdade somos nós mesmos. Escrevendo e escolhendo o tempo todo. Até mesmo quando ficamos parados, sem qualquer tipo de ação estamos fazendo uma opção. Optando por viver oque o tal do destino escolheu.
Concordo, porém, com a visão de que todos temos um Kharma. Não aquele kharma espirtual que viera de outras vidas. Mas sim o kharma como uma lei de ação e reação. Acredito também que tenhamos algum controle sobre ele. O ser humano e seu kharma seriam como flechas e o arqueiro.
Em um primeiro momento as flechas estão guardadas, representando o kharma passivo. Em um segundo momento o arqueiro coloca a flecha no arco e tensiona-o. Nesse ponto ele coloca uma energia potencial no arco, mas ainda possui controle sobre seu kharma, escolhendo qual a intensidade da tração ou até mesmo se ele irá pegar a flecha e guardá-la no seu local de origem.
Em um último momento ele finalmente solta a flecha. A partir daí, não há como fazê-la parar.
Se temos certo controle sobre nossas decisões, nossas ecolhas porque alguns de nós ainda reclamam de como a vida é injusta, como nada nunca acontece como planejamos.
Ou como se sofre por ter sido feita uma opção.
Simone Beauvoir disse que “ Todas as vitórias escondem abdicações”. Oque nos resta aqui é o que queremos renunciar. Renunciar não necessariamente tem tom pejorativo. Certas renúncias são muito sábias e necessárias.
Parar e reclamar da vida certamente é o meio mais fácil e mais comum. Tomar as rédeas da situação é coisa pra aqueles que têm a coragem de dar a cara a tapa.
Feliz sou de ser cercada desses corajosos que sem medo se expõem ao perigo e à aventura de viver.
Feliz será você quando descobrir que pode mais do que reclamar. O verbo aqui é ação.
“ Há os que sentam e choram e há os que se levantam e fazem”. Qual deles você quer ser?


Queridos, vale aqui a reflexão. Recomendo como leitura Kharma e Dharma do Mestre De Rose.
Ao meu querido De Rose, mais uma vez obrigada por suas tão sábias palavras e pelo sorriso sincero.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Hoje é o seu dia!

Ela me ensinou a andar, a falar, a comer, a sorrir, a brigar. Ela me ensinou a ser forte mas sem jamais deixar de ser doce.
Ela me fez aprender a nadar, aprender a ler, escrever, respeitar os mais velhos.
Ela já me viu chorar, gargalhar, acreditra, desacreditar. Mas nunca deixou de acreditar em mim.
Ela já se orgulhou de uma boa nota, de um belo poema, de alguma conquista.
Ela já me levou na porta da escola, me comprava sorvete e me vestia como princesa, dessas de contos de fada. Ela me ensinou a ser perua, a ser criança, a ser mulher, a ser guerreira, a ser honesta, a ser firme, a ser doce, a ser eu.
Ela doce que nem açúcar, guerreira como Kali, poesia de Drumond, orquíde preferida, amiga, exemplo, colo, bronca, conselho.
Um dia ela já foi muito grande, me carregava no colo, era a voz da razão. Hoje continua grande. Grande de alma, de afeto.
Hoje ela é amiga, ela divide comigo e soma também. É querida e amada, o famoso pau pra toda obra.Hoje é o dia dela. Dia de mulher guerreira..
Hoje é dia de comemorar. É o dia dessa criatura...
E morram de inveja porque ela é minha MÃE. Mãe única de filha única e a pessoa mais única que eu conheço.

Dona Gilda, meu exemplo, meu carinho. Parabéns mãe!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Terra Santa


Tudo cabe naquela varanda. Cabe alegria, cabe amizade, cabe gente bonita, cabe gente de coração puro, cabe franqueza, cabe amor, cabe conselho.
Tudo acontece naquela varanda, gente cantando, gente sorrindo. Mas cabe também desabafo, um esporro amigo, um mau humor matinal, amigos lendo jornal.
Tudo me encanta naquela varanda, cheiro de grama molhada, cheiro de vida, gosto de açúcar, gosto de amar.

Ali a gente foi mais criança, joguei bola, caí de tanto rir, estive com meus melhores amigos. Ali foi onde mais vivi. Ali deitei na rede, brinquei de mímica, ali o juiz falou.
Ah, quem me dera se a vida fosse toda naquela varanda. Ah, quem me dera viver cercada só daquela gente que aprendeu a viver e ser feliz de maneira simples,quase trivial.
Ah, quem me dera pudéssemos ser sempre tão jovens que aqueles velhos planos, velhos projetos todos feitos naquela varanda nunca morressem.Ah, quem me dera acordar sempre com a viola tocando.

Perto daquela varanda tem mar, tem vila, tem quebra- mola, tem retalho de pizza, tem surf. Lá o sorriso é fácil e nada excasso, lá tem gente que sabe viver, lá tem amiga que canta, que come, que sobe em árvore.Lá tem cachorro do vizinho.

E no fim de tarde... Ah o fim de tarde. Todo dia o sol vai se despedir da gente e morre atrás daquela igrejinha linda ao fundo que se faz a mais perfeita paisagem.
De tão cavalheiro que é, o sol se vai para que a mais majestosa lua apareça e ilumine a noite daquela gente, que naquela varanda foi, é e sempre será mais feliz.

Essa varanda como tudo que é especial não poderia estar jogada por aí, ao acaso. Essa varanda tem seu endereço nesse paraíso sagrado. Nessa terra santa, de santos insanos. Essa terrinha que eu amo e de essas pessoas mais amadas ainda.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Coisa de mulher apaixonada...

Como negar um amor que me salta os olhos? Como esconder o brilho no olho, a pele mais viçosa, o coração tranquilo e o sorriso nos lábios?
Como não me sentir escolhida, privilegiada, amada, encantada, apaixonada? Como não escrever poesia, como não deixar transbordar oque de mais puro e grandioso habita agora em mim?
E assim começaram a surgir os comentários.
- Como você está bonita!
- Como você mudou!
- Não sei porque mas você está diferente, tá com um brilho diferente.
Sim meus caros, para aqueles mais sensíveis eis aqui minha confirmação, realmente algo mudou. Para aqueles não tão sutís eis aqui minha declaração de mulher apaixonada. Eu realmente estou diferente, encantada e convencida de que esse elo será eterno.
Realmente estou convencida que agora o sol é cada dia mais brilhante, que o cheiro de flor invade minha alma, que meu sorriso é resplandecente. Que há mais amor em tudo aquilo que faço.
Há sim algo de fascinante em viver, há algo de tentador em experimentar,há a possibilidade de desconstruir e mudar tudo. E mudar oque antes mais me parecia um martírio e me reinventar. Há quem não acredite no poder da transformação, há quem nem acredite em sua existência. Há quem não perceba que escolher oque se sente é tão natural quanto respirar.
Mas há aqueles que me ensinam todos os dias que somos privilegiados justamente por termos o dom, o poder e a força da mudança. Há quem entenda oque quero dizer mesmo antes de eu escrever essas palavras. Há aqueles que já compreenderam a responsabilidade de viver. Por mais inacreditável que seja alguns já compreenderam que “ a cada erro cometido é uma virtude adquirida”.
A essas pessoas tão doces e especiais devo meu mais sincero agradecimento, devo meu brilho no olho.
Ao grande amor da minha vida devo os momentos mais felizes, devo a alegria sincera, o calor das minhas mais nobres palavras.
Não poderia ser diferente, e como toda boa mulher apaixonada grito ao mundo que você me faz muy bien.
A minha grande paixão? SwáSthya! SwáSthya Yôga, o Yôga antigo, pré-clássico, pré- vêdico, pré- ariano. O Yôga mais completo do mundo.


Meus sinceros agradecimentos ao meu tão querido Mestre De Rose, codificador do SwáSthya, à minha amiga e instrutora Rafaella, à querida Vanessa de Holanda, mulher cuja a força e o brilho no olhar me encantam. Ao tão querido Bruno, a tão bela e doce Letícia, ao querido Marcinho que mesmo de longe é tão presente.

Para os demais que vieram dividir seus sentidos comigo meu agradecimento por seus olhos sempre tão atentos.

domingo, 6 de abril de 2008

Senhor piedade!

Pedras são sempre estáticas, imóveis, insosas, inóquas. Pedras só servem para fazer peso na bagagem e bagagens pesadas causam graves danos à coluna. Bagagens pesadas são verdadeiros martírios, tornam-se incômodas. E aí lá vem aquele ar de reclamação.Reclamação é sempre a maneira mais fácil e prática de pegar as coisas mais feias e pesadas que acontecem em nossas vidas e jogar pra fora. É mostrar que estamos insatisfeitos e que não concordamos com certos absurdos que certas histórias nos impõem.
O que há de irônico nisso tudo é que somos nós mesmos que catamos essas pedras e as guardamos como verdadeiros tesouros dentro de uma mochila muito colorida chamada ilusão. São nossos tesouros, nossos desejos mais secretos e sagrados. Há quem se atreva a ser insano e questionar se essa mochila tão colorida é mesmo tão valiosa.
Sempre houve hereges, loucos de pedra que questionaram se algumas certezas eram mesmo tão certas. Pobre desses mortais queimados nas fogueiras da intolerância alheia. Afinal, o mundo nunca fora redondo e após o oceano oque havia mesmo era abismo.
“ Vamos pedir piedade, senhor piedade pra essa gente careta e covarde!”
Hoje me proponho a ser herege, rebelde e abandonar minha mochila colorida. É com dor e orgulho que deixo minhas pedras. Minha coluna já começou a apresentar os danos já citados. Como nunca gostei do mais fácil farei diferente, não vou reclamar. Vou abdicar. Vou sorrir e professar que o mais belo do fim é a possibilidade do recomeço. A possibilidade do novo, de fazer diferente e melhor.
Chico de tão sabido que é já ousou a cantar certa vez: VAI PASSAR. E você que inventou a tristeza por favor tenha a fineza de desinventar, que de tanto escutar acabei acreditando que sorrir é sempre o melhor remédio. Mesmo que seja sorrir de si mesmo. Sorrir porque já não se pode mais chorar.
Quero banho de sal grosso, flor enfeitando a bancada, barriga doendo de tanto gargalhar. Quero bom dia, quero pôr do sol, quero cheiro de chuva, quero sundae de ovomaltine. Quero ser diva, quero ser amiga, quero ser forte, quero minhas raízes, minha fortaleza de sempre. Quero minha mãe, quero meu pai, quero meu brinquedo, quero ser criança.
Quero você que já me ouviu gritar, esperniar e fazer juras que jamais poderiam ser cumpridas. Quero viver, quero construir meu castelo, quero meu príncipe em seu cavalo branco, mesmo que ele não exista. Quero, quero, quero. Quero vida, quero paz, quero amor.
- E aquela pedra no caminho?
- Ah, aquela pedra furou. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
- Ih, furou! E agora?
- Ah agora? Estou indo embora no meu cavalo alado que me espera logo ali. Onde sou só sorriso e energia.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Pro dia nascer feliz

Sim, hoje eu quero me enganar. Acreditar que o mundo amanheceu cantando enquanto eu me recusava a esquecer teu cheiro. Não quero apagar nenhuma das marcas que esculpistes no meu corpo. Não quero esquecer da tua boca em minha pele e daquele raio de sol que fugiu do teu sorriso.
Hoje eu quero ser mulher apaixonada, tola e tonta. Tonta de lembranças tão vívidas que mais se parecem com uma obra arte. Hoje eu quero o teu bom dia ainda que mais tarde soe como um adeus.
Ontem chovia lá fora enquanto nós dois brincávamos de desejo. Chovia água benta que abençoa aos pobres amantes que não renegam a paixão. Chovia porque dentro de mim tudo era tormenta, êxtase e delírio.
Tremi como se houvesse terremoto anunciando apocalípse e sendo assim cedi à tua intimação. Intimava-me a brigar contra mim mesma com força arrebatadora de quem invade um país.
Abruptamente me despiu. E despida do medo e da tua ausência que me sufocava fiquei ali. Foi assim que arrancada a armadura me entreguei, me agredi.
Permiti tua invasão como mãe que amamenta um filho. Nesse ponto não era eu, não era você. Éramos almas indomadas transcendidas em energia, em calor, em movimento.
E agora pouco importa, a chuva se foi e tu mandastes o sol vir me beijar. Escuto ao fundo Aran Juez. Hoje não há ninguém. Só teu gosto, tuas lembranças e febre.
Não há questionamento. Pouco importa o amanhã.
Hoje a vida é carnaval. Euforia constante. Brilho nos olhos. Hoje o dia nasceu por nós e uma brisa veio acariciar minha alma como quem clama por paz.
Paz de quem estendeu a bandeira branca e cansada de lutar se regozija agora com a serenidade de missão cumprida.
Não posso pedir que fiques. Seria injusto com tua liberdade instintiva e com minha mania de amar a dor. Eu não vou te aprisionar em mim porque já estou em você e você irremediavelmente em tudo que vivo.
Em estado catatônico nem mesmo a culpa de me trair me invade. Estou acorrentada em um tempo onde anseio por tua saliva, pelo teu corpo no meu. Enfeitiçada por teus olhos que insistem em me conduzir para o estranho. O reino da insegurança já não me assusta, me encanta, me convida para dançar a dança de quem vive a vida como se a cada instante tudo fosse acabar.
Eis me aqui estanque. Olhando pela janela e vendo os pássaros que minha imaginação inventa. Serei tua para sempre, desde que o sempre seja somente hoje.

MIL EUS

E que esse texto em forma de desabafo possa mostrar um puquinho do que sou.. E do que não sou..
Sou essa mulher contagiante e moderninha que de tempos em tempos corre para os braços de outro pedaço de mim meio carente, meio frágil. Mas rapidamente me lembro que está fora de moda ser Amélia e que bonito mesmo é ser Madona.
Jamais seria dessas que fazem um tipo bege, porque sou tantas que nem caibo em mim. Sinto alguma coisa que transborda, alguma coisa que grita. Grito por estar dividida entre essas mil personagens que invento todo dia.
Hoje acordei querendo inventar poesia, mas como não levo jeito pra coisa escrevo essas palvras que como chuva caem sem parar na minha frente.
É quase intuicional ser assim tão decidida, tão mulher, tão independente e viver fugindo do comum, do dia- a- dia.
Comum, palavra que não cabe no meu vocabulário. Eu gosto do diferente, do desafio, do que está por vir...Não gosto de rituais cotidianos. Acordar, sair pra trabalhar, voltar, dormir. Esse samsara vicioso que todos os dias insiste em bater na minha porta e por mais que eu teime em não abrir.. Cedo...Cedo porque lembro que a vida não é só feita de vermelho. Existem sim aqueles dias pálidos, que de tão insosos me lembram cenários de filme antigo.
Não, eu não suporto aquelas velhas notícias corriqueiras, gosto de acontecimentos apocalípticos que revolucionem o mundo. Desses que nunca saem no jornais. Já dizia Raul Seixas: “Eu não preciso ler jornais. Mentir sozinho eu sou capaz.”
Mas oque eu não gosto deixo pra lá. O que importa mesmo é cheiro de mar. Cheiro de chuva iminente, cheiro de gente divertida. O azul do céu de cada dia, a gargalhada de criança.
Eu sou daquele tipo que gosta de se reinventar, de ser insana e careta, mal humorada e divertida. Paradoxo constante. Mas nunca a mesma. Isso jamais.
Muitas vezes exuberante, comunicativa, outras suicida social. Gosto de ser assim.. Essa metamorfose ambulante.
Gosto de brilho no olho, de uma paixão inventada, gosto de pôr do sol. Gosto da certeza de que o amanhã será incerto.
Adoro! Adoro sair de mim pra viver no outro, ser invasiva, ainda que doce. Fazer pesquisa de como é o desconhecido.
Amo! Amo mergulhar em mim todos os dias e descobrir que não sou nada e sou tudo isso aqui descrito. Ser interrogação. E não ser nada. Mas ser tudo.